quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Do padre Manuel da Nóbrega à Teoria Geral de Tudo

NÓBREGA ENFRENTA TUPÃ
Os índios brasileiros tinham uma divindade – Tupã, o trovão – porém o padre Manoel da Nóbrega [que chegou ao Brasil em 1549] achou que eles não tinham nenhuma, pois, que absurdo, trovão não é deus. Por outro lado, o jesuíta punha muita fé nos santos óleos.
– “E não há óleos para ungir, nem para batizar”, reclama ele, em carta enviada do Brasil ao seu superior em Lisboa. “Faça Vossa Reverendíssima vir no primeiro navio.”
Nóbrega jamais concordaria com isso, mas qualquer pessoa sensata instada a escolher entre um deus-trovão e um inócuo óleo para ungir ou batizar ficaria, sem dúvida, com o primeiro que, pelo menos, faz um barulho enorme.
Ou seja, se a batalha entre os sacerdotes católicos e os feiticeiros tupis, travada nos primórdios da colonização, tivesse sido decidida por argumentos racionais, não tenho dúvidas de que Tupã, o deus brasileiro, teria sido o vencedor.
– Trummmmmm!!!
VIVA O POLITEÍSMO !
É curioso, embora facilmente compreensível, que a história oficial das religiões, dominada em nosso meio pelos preconceitos cristãos, apresente o monoteísmo como uma espécie de ápice da compreensão humana, da mesma forma que o imperialismo seria o estágio superior do capitalismo, para Lênin; ou a teoria geral de tudo, atualmente buscada pelos cientistas, a culminância da Física. (A analogia não é minha; está num livro recente sobre a evolução da Matemática.)
A história de Afrodite  [assim como a de Héstia e Priapo] e muitas outras mais desmentem a alegada superioridade da crença em um deus único. Na verdade, o que o advento do monoteísmo fez foi substituir a riqueza dos enredos de intrigas, ciúmes, amores e paixões que mantinham os deuses em intensa atividade por uma história monótona de obediência ou desobediência a um ditador universal. Os desvios a esta mensagem são poucos e incapazes de rivalizar com a beleza e a profundidade das histórias que compõem a mitologia grega, para dar apenas o exemplo mais conhecido.
Gustavo Maia Gomes
(12/2/2014)
 NOTA: Textos retirados de Gustavo Maia Gomes, “O deus brasileiro e seus colegas do Velho Mundo: Uma viagem intelectual”, Revista Insight Inteligência, Rio de Janeiro, jul-ago-set 2012, disponível em http://www.insightinteligencia.com.br/58/PDFs/pdf10.pdf  

Nenhum comentário:

Postar um comentário