NÓBREGA ENFRENTA TUPÃ
Os índios brasileiros tinham uma divindade – Tupã, o trovão – porém o
padre Manoel da Nóbrega [que chegou ao Brasil em 1549] achou que eles não
tinham nenhuma, pois, que absurdo, trovão não é deus. Por outro lado, o jesuíta
punha muita fé nos santos óleos.
– “E não há óleos para ungir, nem para batizar”, reclama ele, em carta enviada
do Brasil ao seu superior em Lisboa. “Faça Vossa Reverendíssima vir no primeiro
navio.”
Nóbrega jamais concordaria com isso, mas qualquer pessoa sensata instada
a escolher entre um deus-trovão e um inócuo óleo para ungir ou batizar ficaria,
sem dúvida, com o primeiro que, pelo menos, faz um barulho enorme.
Ou seja, se a batalha entre os sacerdotes católicos e os feiticeiros
tupis, travada nos primórdios da colonização, tivesse sido decidida por
argumentos racionais, não tenho dúvidas de que Tupã, o deus brasileiro, teria
sido o vencedor.
– Trummmmmm!!!
VIVA O POLITEÍSMO !
É curioso, embora facilmente compreensível, que a história oficial das
religiões, dominada em nosso meio pelos preconceitos cristãos, apresente o
monoteísmo como uma espécie de ápice da compreensão humana, da mesma forma que
o imperialismo seria o estágio superior do capitalismo, para Lênin; ou a teoria
geral de tudo, atualmente buscada pelos cientistas, a culminância da Física. (A
analogia não é minha; está num livro recente sobre a evolução da Matemática.)
A história de Afrodite [assim como a de Héstia e Priapo] e muitas outras mais desmentem a alegada superioridade da crença em um deus único. Na verdade, o
que o advento do monoteísmo fez foi substituir a riqueza dos
enredos de intrigas, ciúmes, amores e paixões que mantinham os deuses em
intensa atividade por uma história monótona de obediência ou desobediência a um ditador universal. Os desvios a esta mensagem são poucos e incapazes de
rivalizar com a beleza e a profundidade das histórias que compõem a mitologia
grega, para dar apenas o exemplo mais conhecido.
Gustavo Maia Gomes
(12/2/2014)
NOTA: Textos retirados de Gustavo Maia Gomes, “O deus
brasileiro e seus colegas do Velho Mundo: Uma viagem intelectual”, Revista Insight Inteligência, Rio de
Janeiro, jul-ago-set 2012, disponível em http://www.insightinteligencia.com.br/58/PDFs/pdf10.pdf
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