terça-feira, 4 de março de 2014

“Se Deus não existisse, seria preciso inventá-lo”

Voltaire me lembra o "irmão"
marista José, que mantinha
uma disputa pessoal com o francês
Respeitados os limites de tempo e de lugar, acho que tive ótimos professores no curso de graduação em economia (Universidade Católica de Pernambuco, 1967-70). Em ordem alfabética, destaco alguns que já eram ou vieram a se tornar profissionais de primeira linha, nas suas respectivas especializações: Carlos Osório, Clóvis Cavalcanti, Cristóvam Buarque, Fernando Antonio Gonçalves, Jorge Jatobá, José Jorge Vasconcelos, Olímpio Galvão, Telmo Maciel, Vernon Walmsley e Vicente de Paulo Soares.
Esses eram ótimos, mas havia os não tão bons. O de História, por exemplo, de cujo nome não me recordo, nem citaria, deixava a desejar. Lembro de uma aula em que ele escreveu no quadro verde (ou “lousa”, como preferem os paulistas): “Causas da Revolução Francesa: Montesquieu, Voltaire e Rousseau”. Devo confessar que o desdobramento do assunto não nos levou muito além da desastrada introdução.
Eu já era um leitor razoavelmente assíduo, nessa época, de modo que as três “causas” da Revolução Francesa faziam parte de minha biblioteca particular. Voltaire, especialmente, era um conhecido de longa data, pois o “irmão” José, um de meus professores no Colégio Marista (Recife, 1958-64), não deixava seus alunos esquecerem o gênio francês que havia cometido o sacrilégio de chamar a Igreja Católica de “A Infame”.
Meio gago, José era revoltado com Voltaire e sempre se atrapalhava ao falar nele. Sua indignação o fazia ruborizar e tropeçar nas palavras, mais ainda do que sempre. Mas ele tinha uma arma fatal contra o autor de Cândido ou o Otimismo: “Voltaire, o maior inimigo da Igreja, disse que se Deus não existisse, seria preciso inventá-lo”.

Não ocorria ao “irmão” que bem pode ter sido o caso.

Gustavo Maia Gomes
Recife, 4 de março de 2014
(Treze anos, hoje, irrestritamente felizes com a mulher de minha vida: Maria de Lourdes de Azevedo Barbosa)

Nenhum comentário:

Postar um comentário