quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Da multidão, ouviu-se um grito

Gustavo Maia Gomes

A Olimpíada nem começou e já me causa tédio. (Seja isso o que de pior poderei dizer, quando ela tiver terminado.) Vou logo avisando: não desdenho saltos em altura, com ou sem vara; nado de peito ou despeito; futebol, voleibol, chá preto ou pente. Ao contrário.

Até defendo a inclusão de outras modalidades, como a "Dois Quilômetros de Costas": os atletas começam a prova na fita de chegada e se põem a correr em marcha a ré, como video tapes rebobinando, para chegar no início da raia antes que o pistoleiro ali postado dispare sua arma contra um urubu ocasional.

Incomoda-me, sim, ouvir mentiras repetidas à exaustão. O "legado das Olimpíadas", por exemplo. Este, se houver, será um conjunto de equipamentos indubitavelmente caros e duvidosamente úteis, destinados a se tornarem gigantescas vacarias. (Há os úteis, claro, mas estes independem dos jogos. Ninguém precisa reunir cem mil atletas durante 30 dias para construir uma linha de metrô.)

Quanto ao evento, propriamente dito, já antevejo o clímax da abertura olímpica. Alguém da multidão vai gritar, para um bilhão de telespectadores: "Atocha a tocha, prefeito". Atochar, diz o dicionário, quer dizer "fazer entrar com força; entalar, enfiar". Não é coisa que se deseje, sequer, a inimigos, mas, que vai acontecer, vai.

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