domingo, 11 de dezembro de 2016

Antonio vereador e a rainha Elisabeth

 Gustavo Maia Gomes

Em 1968, eu era repórter político do Jornal do Commercio (Recife). Cobria tanto a Assembleia Legislativa quanto a Câmara Municipal. Estávamos entrando na fase mais dura do regime militar. Muitos deputados e vereadores tinham sido cassados. Em quase todos os casos, os suplentes que assumiam eram verdadeiras nulidades. Ou piores do que isso.

O presidente momentâneo da Câmara Municipal, Antônio Barbosa, por exemplo, dava sinais de ser uma pessoa fronteiriça. Em tempos normais, ninguém se incomodaria com isso, mas, naquele momento, havia duas circunstâncias que não podiam ser ignoradas: (1) o Recife estava em vias de receber a visita da rainha da Inglaterra; e (2) pelos protocolos diplomáticos, o Presidente da Câmara teria um papel importante a desempenhar na recepção a Elizabeth II.

Nos círculos, digamos assim, responsáveis do Estado, começou a se desenvolver o pânico. E se Antônio Barbosa cuspisse no rosto da rainha? Ou se ele, simplesmente, não conseguisse fazer a sua parte nas cerimônias? Quem sabe, não daria um arroto de repercussão internacional, noticiado por todos os jornais do mundo? Não, não se podia correr esse risco. Mas, o que fazer?

A solução foi convencer o vereador a se licenciar por alguns dias. A Câmara elegeu, em seguida, um presidente transitório mais normal e a recepção à rainha transcorreu sem incidentes. Antônio Barbosa deve ter ficado satisfeito: foi só ele concordar em sair de férias para ninguém mais lhe dizer onde ficava a Inglaterra, quem era essa tal de Elizabeth, nem o que ele tinha a ver com aquilo tudo.

(Publicado no Facebook, 11/12/2016)

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