terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Um lugar de distinção

Faculdade de Direito do Recife

Reitoria da Universidade Federal de Pernambuco
Nas minhas pesquisas sobre a história de familiares há muito falecidos, estive lendo uma lista de professores e alunos da velha Faculdade de Direito do Recife. Encontrei nomes como Clóvis Bevilacqua, Epitácio Pessoa, J. J. Seabra, Assis Chateaubriand, Nilo Peçanha, Agamenon Magalhães, F. Pessoa de Queiroz, José Lins do Rego, Martins Junior, Amaro Quintas. E muitos outros. Também soube, por fontes diversas, que Castro Alves e Rui Barbosa aqui estiveram, embora tenham se formado em São Paulo.
Meu bisavô Manoel Sebastião de Araújo Pedrosa, da turma de 1883, foi aluno de Tobias Barreto. Meu avô Nominando Maia Gomes (1911) teve como colega o também alagoano Pontes de Miranda, talvez, o maior jurista brasileiro de todos os tempos. De Mauro Bahia de Maia Gomes, meu pai (1939), Soriano Neto e Sebastião do Rego Barros foram mestres.
Ainda temos, nos dias atuais, excelentes professores e alunos, não só em Direito, mas em muitos cursos universitários do país. Há uma diferença, entretanto, entre o ontem e o hoje. Até, talvez, os anos 1950, a Faculdade de Direito do Recife era um lugar de distinção. No tempo do Império, seus professores e diretores recebiam títulos nobiliárquicos. Na República, eram convocados para cargos importantes. Os alunos, em regra, pelo menos, cultivavam esse clima de respeito e reverência, pois sabiam estar sendo preparados para disputar posições importantes na sociedade de seu tempo.
Hoje, não é mais assim. Ao invés de templos da diferença, as universidades são regidas pelo princípio da isonomia, da mesmitude, da nivelação por baixo. Se Albert Einstein acordasse de seu sono definitivo e viesse ser professor de uma universidade pública brasileira, iria ter o mesmo salário de Rescaldo Sangrento, um rematado imbecil que, juntando circunstâncias e manobras, ganhou o título de doutor em ignorâncias variadas.
Além do salário equivalente ao de Rescaldo Sangrento, Einstein teria, também, alunos que -- num democratismo nauseabundo -- frequentam as aulas exalando mau cheiro, vestindo roupas rasgadas e descansando os pés imundos na cadeira à frente. Não é uma questão de pobreza ou riqueza. Os jovens ricos tomam banho antes de irem ver as namoradas; os pobres sempre exibem roupas decentes quando vão à igreja de sua devoção. É uma questão de se valorizar ou não o lugar que se vai.
Salvo raríssimas exceções, não temos Einsteins nas universidades brasileiras. Nunca mais teremos. Em troca, elas estão cheias de Rescaldos Sangrentos.
(Sinal dos tempos: compare-se, nas fotos anexas, o prédio da Faculdade de Direito do Recife, inaugurado em 1911, com o edifício onde funciona a Reitoria da Universidade Federal de Pernambuco, inaugurado, provavelmente, nos anos 1970.)

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