Gustavo Maia Gomes
Em 24 de dezembro de 1951, o
personagem conhecido como Papai Noel morreu na forca e foi queimado, em
seguida, sob a acusação de transformar o Natal num evento de consumo. Isso
ocorreu na catedral de Dijon, França. Os padres locais aprovaram tudo, mas não
conseguiram evitar que o morto reaparecesse, alguns dias depois, na mesma
cidade. Lépido e fagueiro, curtindo sua fama, que não é pouca.
Nem pouca, nem surpreendente:
uma vez por ano, o velho recebe mais propaganda gratuita do que Jesus Cristo,
seu patrão e aniversariante do mês. De fato, Papai Noel é o Natal, evento que
provoca euforia no comércio, sustenta tanto a indústria de enfeites quanto uma
multidão de inventores esquisitos, e ainda motiva a produção de inúmeros
artigos acadêmicos. Nos Estados Unidos, sobretudo, mas não exclusivamente.
A produção científica sobre a
festividade, movida a dinheiro e povoada de estudos duvidosamente relevantes, é
pouco conhecida. Vale ter uma breve notícia dela, assim como dos inventos
natalinos: bugigangas patenteadas, que, em conjunto, refletem e ajudam a
sustentar a prosperidade movida pelas compras.
NATAL CIENTÍFICO
Do que os estudiosos andam
pesquisando sobre temas de Natal, vai aqui uma pequena amostra, encontrável na
internet:
1. Ray Cradick testou a
hipótese de que os desenhos de Papai Noel aumentariam de tamanho até o Natal,
mas se tornariam menores depois. Parece que as figuras, realmente, crescem
antes da festa, mas não diminuem, depois. Assim, terminarão maiores que o
consultório psiquiátrico onde são desenhadas.
2. A contribuição de Eileen
Fischer e Stephen J. Arnold para o conhecimento humano é a descoberta de que os
homens que “sustentam atitudes igualitárias em relação ao papel dos gêneros se
envolvem mais na compra de presentes natalinos”. Ou seja, se comportam como as
mulheres. Embora pareça banal, chegar a tanto custou caro: eles entrevistaram
299 pessoas.
3. Joel Waldfogel afirma ser
muito improvável que, ao dar um presente, o doador escolha exatamente aquilo
que o beneficiado compraria com o mesmo dinheiro. Em todos os outros casos,
isso não ocorreria. A discrepância pode ser interpretada como uma perda social
de bem-estar. Que fazer? Nem eu sei nem, aparentemente, ele.
4. James Hillard e
colaboradores reconhecem existir a crença de que a época do Natal está
associada à maior incidência de crises psicóticas. Chegaram à conclusão
contrária: há um decréscimo delas. Infelizmente, passado dezembro, o que tinha
caído volta a subir. Os doentes ficam sem nenhum benefício líquido; só os
médicos ganham, pois têm mais tempo para fazer as compras natalinas que o mundo
todo lhes cobra.
Em resumo, a literatura
técnica especializada trata dessas coisas. Assim como o Natal, propriamente
dito, é movido a reais, dólares e décimo-terceiro salários, a produção acadêmica
a ele associada também responde aos impulsos do mercado e aos financiamentos
governamentais. Existem os financiadores e os que querem ser financiados.
Portanto, aparecem as pesquisas. Mas talvez haja dinheiro demais. Considerando
algumas das coisas que têm sido estudadas, esta é uma possibilidade.
NATAL INDUSTRIAL
Passemos agora para o lado
prático da coisa: as invenções natalinas e suas respectivas patentes concedidas
pelo governo. Um homem inventou o disco CD em forma de árvore de Natal. (Deve
ser um problema, aquele negócio triangular girando a alta velocidade. Poderia
cortar um dedo desavisado.) Outro, um clipe para luzes natalinas. O terceiro, um suporte de luzes para colocar no
telhado. Há, também, uma
varinha sustentando pequenas luminárias. (Meio afetada, a tal
varinha.) Um besteirol completo.
Felizmente, bem pesadas as
coisas, a sobrevivência da humanidade independe desses
inventos. Mas a lição que fica é outra: os que patenteiam varinhas ornamentais
ganharão dinheiro com elas. E a soma dos ganhos com varinhas, luzes, clipes,
suportes e tudo o mais termina sendo parte da diferença entre os países onde a
burguesia “faz maravilhas” (para usar a expressão de Marx e Engels no Manifesto
Comunista) e aqueles onde ela está proibida de fazê-las. Quem quiser que
prefira estes últimos. Não é meu caso. A mim, custa muito menos aturar Papai Noel uma vez por ano do que custaria ter de aguentar Fidel Castro o ano inteiro.
Este artigo será publicado,
simultaneamente, em http://www.blogdatametrica.com.br,
http://www.econometrix.com.br e http://www.gustavomaiagomes.blogspot.com
(19 dez 2011)
Referências
Ray A. Cradick, “Size of Santa Claus drawings as a
function of time before and after Christmas”. Journal of Psychological
Studies, Vol 12(3), 1961, 121-125.
Eileen Fischer and Stephen J. Arnold, “More than a
labor of love: gender roles and Christmas gift shopping”. Journal of
Consumer Research, Dec 1990.
Joel Waldfogel, “The deadweight loss of Christmas”. American
Economic Review, vol. 83, n. 45, n. 5, Dec. 1993.
James R. Hillard, Jacqueline M. Holland, and Dietolf
Ramm, “Christmas and psychopathology: Data from a psychiatric emergency room
population”, Archives of General
Psychiatry, 1981; 38 (12).
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