segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Reincidências alagoanas


Gustavo Maia Gomes
Sob muitos aspectos, Alagoas é uma decepção. Estado relativamente rico em recursos naturais, tem uma economia truncada, muito dependente da cana-de-açúcar e seus produtos, e uma situação social deplorável até para os padrões nordestinos. De onde vêm os problemas? A resposta envolve inúmeros fatores, mas, dentre eles, a política tem lugar de destaque. Confira, abaixo, uns poucos retratos impressionistas (e impressionantes).
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1) "Investigação da Polícia Federal afirma que a família do senador e ex-presidente Fernando Collor pagou [R$ 2,2 milhões] em 1998 pelo dossiê Cayman, conjunto de papéis forjados para implicar tucanos com supostas movimentações financeiras no exterior. (...) O senador teria recebido pessoalmente a papelada”. (Folha de São Paulo, 12/12/2011)
2) "O Ministério Público Federal informou que pediu à Justiça a inclusão dos nomes dos ex-governadores de Alagoas Manoel Gomes de Barros e Ronaldo Lessa no rol de denunciados por má gestão de recursos de verbas destinados às obras de macrodrenagem do Tabuleiro dos Martins." (O Estado de São Paulo, 30/11/2010)
3) "O Supremo Tribunal Federal abriu investigação sobre supostas práticas de improbidade administrativa e de tráfico de influência exercidas pelo senador Renan Calheiros (PMDB-AL), [que] já é investigado pelo STF em outro caso." (UOL Notícias: Política, 02/08/2010)
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Se fosse só isso, seria bastante. Mas tem mais, muito mais. Veja algumas jóias históricas a respeito de ex-governadores do Estado. 
a) Sobre Silvestre Péricles (1947/51): no último dia de mandato, besuntou as paredes do Palácio do Governo com suas próprias fezes, como forma de recepcionar o arquiinimigo Arnon de Mello, sucessor eleito. Não tinha feito muito mais do que isso, nos quatro anos anteriores.
b) Sobre Arnon de Mello (1951/56): em 1963, tentando balear Silvestre Péricles, matou em pleno Senado o acreano José Kairala, um suplente que não tinha nada a ver com aquela briga. Além da falta de pontaria, o atirador também se distinguiu por ter legado ao mundo um filho de nome Fernando (Collor de Mello).
c) Sobre Geraldo Bulhões (1991/95): uma nulidade política, entregou o poder à mulher, de quem apanhava regularmente com toalhas molhadas. Um dia, os humoristas do Casseta e Planeta (TV Globo) entrevistaram a espancadora: “dona Denilma, na sua casa, quem tem Bulhões?”. Nem precisaria perguntar. Enquanto isso, o Estado prosseguia parado, quando a situação era boa; ou afundando, quando era normal.
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Quem quiser conhecer outras informações "edificantes" deve ler o livro Curral da Morte (Rio de Janeiro, Editora Record, 2010), de Jorge Oliveira. Trata-se de uma reportagem sobre os crimes de mando em Alagoas, focada em 1957, quando o pedido de impeachment do então governador Muniz Falcão levou a um tiroteio de metralhadoras dentro da Assembleia Legislativa. Apurados os “votos”, havia um deputado morto e cinco feridos.
Jorge Oliveira conta ter entrevistado um velho jornalista alagoano que, conduzindo-o pela principal rua de Maceió, ia apontando cada ponto onde alguém tinha sido assassinado por razões políticas. Conclusão do autor de Curral da Morte: se houvessem colocado uma cruz em cada um desses locais, aquilo ali seria um cemitério.
Para os alagoanos (ou “meio alagoanos”, como eu), conhecer ou relembrar tais histórias e confrontá-las com a situação lamentável a que essa gente levou o Estado dá um pouco de tristeza e muito de raiva. Meu pai concordaria; meu irmão, tenho certeza, concordará.


Este artigo será publicado, simultaneamente, em http://www.blogdatametrica.com.br, http://www.econometrix.com.br e http://www.gustavomaiagomes.blogspot.com (12 dez 2011)

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