Gustavo Maia
Gomes
Sob muitos aspectos, Alagoas é
uma decepção. Estado relativamente rico em recursos naturais, tem uma
economia truncada, muito dependente da cana-de-açúcar e seus produtos, e
uma situação social deplorável até para os padrões nordestinos. De onde vêm os problemas? A resposta envolve inúmeros fatores, mas, dentre eles, a política tem lugar de
destaque. Confira, abaixo, uns poucos retratos
impressionistas (e impressionantes).
***
1) "Investigação
da Polícia Federal afirma que a família do senador e ex-presidente Fernando
Collor pagou [R$ 2,2 milhões] em 1998 pelo dossiê Cayman, conjunto de papéis
forjados para implicar tucanos com supostas movimentações financeiras no
exterior. (...) O senador teria recebido pessoalmente a papelada”. (Folha
de São Paulo, 12/12/2011)
2) "O Ministério Público Federal informou que pediu à Justiça a
inclusão dos nomes dos ex-governadores de Alagoas Manoel Gomes de Barros e
Ronaldo Lessa no rol de denunciados por má gestão de recursos de verbas
destinados às obras de macrodrenagem do Tabuleiro dos Martins." (O Estado de São Paulo, 30/11/2010)
3) "O
Supremo Tribunal Federal abriu investigação sobre supostas práticas de
improbidade administrativa e de tráfico de influência exercidas pelo senador
Renan Calheiros (PMDB-AL), [que] já é investigado pelo STF em outro caso." (UOL Notícias: Política,
02/08/2010)
***
a) Sobre Silvestre Péricles (1947/51): no último dia de mandato, besuntou as paredes do
Palácio do Governo com suas próprias fezes, como forma de recepcionar o arquiinimigo Arnon de
Mello, sucessor eleito. Não tinha feito muito mais do que isso, nos quatro anos anteriores.
b) Sobre Arnon de Mello (1951/56): em
1963, tentando balear Silvestre Péricles, matou
em pleno Senado o acreano José Kairala, um suplente que não tinha nada a ver com aquela briga. Além da falta de pontaria, o atirador também se distinguiu por ter legado ao mundo um filho de nome Fernando (Collor de Mello).
c) Sobre Geraldo Bulhões
(1991/95): uma nulidade política, entregou o poder à mulher, de quem apanhava regularmente com
toalhas molhadas. Um dia, os humoristas do Casseta e
Planeta (TV Globo) entrevistaram a espancadora: “dona
Denilma, na sua casa, quem tem Bulhões?”. Nem precisaria perguntar. Enquanto isso, o Estado prosseguia
parado, quando a situação era boa; ou afundando, quando era normal.
***
Quem quiser conhecer outras informações "edificantes" deve ler o livro Curral
da Morte (Rio de Janeiro, Editora Record, 2010), de Jorge Oliveira. Trata-se de uma reportagem
sobre os crimes de mando em Alagoas, focada em 1957, quando o pedido de
impeachment do então governador Muniz Falcão levou a um tiroteio de
metralhadoras dentro da Assembleia Legislativa. Apurados os “votos”, havia um deputado
morto e cinco feridos.
Jorge Oliveira conta ter
entrevistado um velho jornalista alagoano que, conduzindo-o pela principal rua de Maceió, ia apontando cada ponto onde alguém
tinha sido assassinado por razões políticas. Conclusão do autor de Curral da Morte: se houvessem colocado
uma cruz em cada um desses locais, aquilo ali seria um cemitério.
Para os alagoanos (ou “meio alagoanos”,
como eu), conhecer ou relembrar tais histórias e confrontá-las com a situação
lamentável a que essa gente levou o Estado dá um pouco de tristeza e muito de raiva.
Meu pai concordaria; meu irmão, tenho certeza, concordará.
Este artigo
será publicado, simultaneamente, em http://www.blogdatametrica.com.br,
http://www.econometrix.com.br
e http://www.gustavomaiagomes.blogspot.com
(12
dez 2011)
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