quinta-feira, 12 de abril de 2012

Empresários brasileiros estão otimistas (Imagine os chineses, russos, indianos, sul-africanos...)


Gustavo Maia Gomes
O número de empresários brasileiros otimistas com o cenário econômico alcançou 86%, nível que coloca o Brasil na segunda colocação no ranking mundial do International Business Report (Veja online, 9/4/2012)
Não sei se nossos empresários têm razão em estar otimistas ou se eles são, simplesmente, ingênuos. Não sei se consultam as estatísticas ou, apenas, acreditam no discurso oficial. Não sei se comparam o Brasil com seus competidores ou, tão-somente, ficam felizes quando o governo lhes concede alguns benefícios temporários.
O que eu sei é que, se houvesse uma olimpíada econômica envolvendo o Brasil e outros países comparáveis, como os demais Brics (Rússia, Índia, China e África do Sul), nosso país perderia feio. Portanto, se os empresários brasileiros estão mesmo assim tão otimistas, os chineses, indianos, russos e sul-africanos devem estar eufóricos.
CRESCIMENTO
Na primeira década do presente século, o produto interno bruto brasileiro (jornalisticamente definido como “a soma de todas as riquezas produzidas em um ano”) teve um crescimento acumulado de 37%. Antes de achar bom, verifique os dados para os outros países: a China cresceu 174%; a Índia, 113%; a Rússia, 58%: a África do Sul, 42%.
Ou seja, não é o crescimento econômico brasileiro recente que explica o otimismo dos nossos empresários.


Fonte: IMF, World Economic Outlook Database, Sept 2011
INVESTIMENTO PÚBLICO
O investimento público mede a capacidade de construir infraestrutura, um dos principais determinantes da produtividade. A economia somente poderá crescer mais, exportar mais, expandir seus mercados compradores, se as suas rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, usinas hidrelétricas, estiverem à altura das necessidades. Mas o investimento público no Brasil (em 2007, último ano para o qual existem dados internacionais) valia só 1,7% do PIB. Todos os demais Brics tinham – com certeza, ainda têm – números melhores do que este.
Ou seja, não é a capacidade brasileira de construir infraestrutura que explica o otimismo dos nossos empresários.


Fonte: WEO/FMI. Elaborado por José Roberto Afonso e Gabriel Junqueira (Disponível em http://www.joserobertoafonso.com.br/attachments/article /1193/1acsp.pdf
INVESTIMENTO TOTAL
O investimento total (geralmente confundido com a acumulação de plantas industriais, imóveis, máquinas e equipamentos incorporados ao processo produtivo) é um determinante-chave do crescimento econômico. Já se pensou até que era o único. Hoje, não se chega a tanto, mas ninguém diria que o investimento não é importantíssimo. Pois o Brasil investe 19,3% do PIB. Menos do que qualquer um dos demais BRICs, inclusive (na segunda casa decimal), da África do Sul.
Ou seja, não é a taxa de investimento brasileira que explica o otimismo dos nossos empresários.


Fonte: IMF, World Economic Outlook Database, Sept 2011
TAMANHO DO GOVERNO
Um governo que gasta muito impõe pesada carga tributária ao setor produtivo. Quanto mais impostos, menor a competitividade internacional de um país. E quanto menor a competitividade internacional, menor a capacidade de crescer, numa economia aberta ao comércio exterior. O governo grande não seria tão ruim se os recursos públicos fossem usados para construir infraestrutura. Não são. Ficamos, portanto, só com o problema: as despesas públicas no Brasil (como proporção do PIB) superam às de qualquer outro Bric.
Ou seja, não é o tamanho do governo brasileiro que explica o otimismo dos nossos empresários.


Fonte: IMF, World Economic Outlook Database, Sept 2011
TAXA DE CÂMBIO
Para as perspectivas de bom desempenho presente e futuro de uma economia, o câmbio sobrevalorizado (dólar barato) é mais um obstáculo do que um estímulo. Tem um efeito relaxante nos consumidores, pois os vinhos estrangeiros ficam mais baratos que os nacionais, mas pode matar a indústria local incapaz de exportar ou competir com os importados. Em longo prazo, essa indústria fecha. Com ela se vão os empregos, os salários e os vinhos. Pois a taxa cambial brasileira é a quarta mais valorizada do mundo. Deixa a quilômetros de distância às de nossos competidores Brics.
Ou seja, não é a taxa de câmbio brasileira que explica o otimismo dos nossos empresários.


Fonte: “The Big Mac Index” (Jan 12th 2012, The Economist online) http://www.economist.com/blogs/ graphicdetail/2012/01/daily-chart-3
TAXA DE JUROS
Das taxas de juros brasileiras, todo mundo ouviu falar. Estão baixando, lentamente, mas ainda são maiores do que a de nossos competidores. Na Rússia, em particular, o dinheiro custa menos de um terço do que custa para as nossas empresas e consumidores. Juro alto é problema, claro, pois toda a produção corrente e os investimentos passam por ele. No caso dos juros de curto prazo, o impacto maior é sobre o financiamento da produção. Mas os nossos juros de longo prazo tampouco são algo que possamos apresentar aos visitantes sem passar vergonha.
Ou seja, não é a taxa de juros brasileira que explica o otimismo dos nossos empresários.


EM RESUMO
Sem negar que existem muitos aspectos positivos na situação atual da economia brasileira, gostaria que alguém me explicasse de onde vem o desmesurado otimismo de nossos empresários.

Este artigo está sendo publicado, simultaneamente, em
(12/04/2012)

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