Gustavo Maia Gomes
O número
de empresários brasileiros otimistas com o cenário econômico alcançou 86%, nível
que coloca o Brasil na segunda colocação no ranking mundial do International Business Report (Veja online, 9/4/2012)
Não sei se nossos empresários têm razão em estar
otimistas ou se eles são, simplesmente, ingênuos. Não sei se consultam as
estatísticas ou, apenas, acreditam no discurso oficial. Não sei se comparam o
Brasil com seus competidores ou, tão-somente, ficam felizes quando o governo
lhes concede alguns benefícios temporários.
O que eu sei é que, se houvesse uma olimpíada
econômica envolvendo o Brasil e outros países comparáveis, como os demais Brics
(Rússia, Índia, China e África do Sul), nosso país perderia feio. Portanto, se
os empresários brasileiros estão mesmo assim tão otimistas, os chineses,
indianos, russos e sul-africanos devem estar eufóricos.
CRESCIMENTO
Na primeira década do presente século, o produto
interno bruto brasileiro (jornalisticamente definido como “a soma de todas as
riquezas produzidas em um ano”) teve um crescimento acumulado de 37%. Antes de
achar bom, verifique os dados para os outros países: a China cresceu 174%; a
Índia, 113%; a Rússia, 58%: a África do Sul, 42%.
Ou seja, não é o crescimento econômico brasileiro recente
que explica o otimismo dos nossos empresários.
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Fonte:
IMF,
World Economic Outlook Database, Sept 2011
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INVESTIMENTO PÚBLICO
O investimento público mede a capacidade de
construir infraestrutura, um dos principais determinantes da produtividade. A
economia somente poderá crescer mais, exportar mais, expandir seus mercados
compradores, se as suas rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, usinas
hidrelétricas, estiverem à altura das necessidades. Mas o investimento público
no Brasil (em 2007, último ano para o qual existem dados internacionais) valia só
1,7% do PIB. Todos os demais Brics tinham – com certeza, ainda têm – números
melhores do que este.
Ou seja, não é a capacidade brasileira de construir
infraestrutura que explica o otimismo dos nossos empresários.
Fonte: WEO/FMI. Elaborado por
José Roberto Afonso e Gabriel Junqueira (Disponível em http://www.joserobertoafonso.com.br/attachments/article
/1193/1acsp.pdf
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INVESTIMENTO TOTAL
O investimento total (geralmente confundido com a acumulação
de plantas industriais, imóveis, máquinas e equipamentos incorporados ao
processo produtivo) é um determinante-chave do crescimento econômico. Já se
pensou até que era o único. Hoje, não se chega a tanto, mas ninguém diria que o
investimento não é importantíssimo. Pois o Brasil investe 19,3% do PIB. Menos
do que qualquer um dos demais BRICs, inclusive (na segunda casa decimal), da
África do Sul.
Ou seja, não é a taxa de investimento brasileira que
explica o otimismo dos nossos empresários.
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Fonte:
IMF, World Economic Outlook Database, Sept 2011
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TAMANHO DO GOVERNO
Um governo que gasta muito impõe pesada carga
tributária ao setor produtivo. Quanto mais impostos, menor a competitividade
internacional de um país. E quanto menor a competitividade internacional, menor
a capacidade de crescer, numa economia aberta ao comércio exterior. O governo
grande não seria tão ruim se os recursos públicos fossem usados para construir
infraestrutura. Não são. Ficamos, portanto, só com o problema: as despesas
públicas no Brasil (como proporção do PIB) superam às de qualquer outro Bric.
Ou seja, não é o tamanho do governo brasileiro que
explica o otimismo dos nossos empresários.
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Fonte:
IMF, World Economic Outlook Database, Sept 2011
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TAXA DE CÂMBIO
Para as perspectivas de bom desempenho presente e
futuro de uma economia, o câmbio sobrevalorizado (dólar barato) é mais um obstáculo
do que um estímulo. Tem um efeito relaxante nos consumidores, pois os vinhos
estrangeiros ficam mais baratos que os nacionais, mas pode matar a indústria
local incapaz de exportar ou competir com os importados. Em longo prazo, essa
indústria fecha. Com ela se vão os empregos, os salários e os vinhos. Pois a
taxa cambial brasileira é a quarta mais valorizada do mundo. Deixa a
quilômetros de distância às de nossos competidores Brics.
Ou seja, não é a taxa de câmbio brasileira que
explica o otimismo dos nossos empresários.
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Fonte: “The Big Mac Index”
(Jan 12th 2012, The Economist online) http://www.economist.com/blogs/
graphicdetail/2012/01/daily-chart-3
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TAXA DE JUROS
Das taxas de juros brasileiras, todo mundo ouviu
falar. Estão baixando, lentamente, mas ainda são maiores do que a de nossos
competidores. Na Rússia, em particular, o dinheiro custa menos de um terço do
que custa para as nossas empresas e consumidores. Juro alto é problema, claro,
pois toda a produção corrente e os investimentos passam por ele. No caso dos
juros de curto prazo, o impacto maior é sobre o financiamento da produção. Mas
os nossos juros de longo prazo tampouco são algo que possamos apresentar aos
visitantes sem passar vergonha.
Ou seja, não é a taxa de juros brasileira que
explica o otimismo dos nossos empresários.
EM RESUMO
Sem negar que existem muitos aspectos positivos na
situação atual da economia brasileira, gostaria que alguém me explicasse de
onde vem o desmesurado otimismo de nossos empresários.
Este artigo está sendo publicado, simultaneamente, em
(12/04/2012)
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