sexta-feira, 20 de abril de 2012

Litoral Norte não pode repetir os erros do passado



(Publicado em Leitura Crítica, 24 de março de 2012)

Gustavo Maia Gomes

Foi notícia nos jornais da primeira semana de março: a terraplenagem da área prioritária em que se instalará a montadora de automóveis Fiat, em Goiana, está concluída. Tempo de brindar, tempo de pensar. Pois já houve outro momento, 40 anos atrás, em que também se disse haver chegado a hora e a vez do Litoral Norte de Pernambuco. A grande esperança, então, era o turismo. Mas as promessas nunca foram cumpridas e a região foi ficando para trás, não somente na atração de visitantes. Em tudo.

Por que deu errado?

Em parte, porque o Litoral Sul – Porto de Galinhas, especialmente – se tornou a menina dos olhos do governo estadual, que para lá dirigiu, com exclusividade, as atenções e as verbas do Prodetur (o Programa de Desenvolvimento do Turismo do Nordeste, financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento e administrado pelo Banco do Nordeste). Mas deu errado, principalmente, porque os municípios do Litoral Norte tiveram a infelicidade de ser administrados por uma sucessão de prefeitos incompetentes, irresponsáveis, burros. Se eram, também, corruptos, não sei, ou não tenho como provar. Nem preciso.

O fato é que, a partir dos anos 1970, a ocupação do Litoral Norte foi sendo feita em ritmo intenso, mas sem obedecer a qualquer plano urbanístico ou, sequer, a simples regras de boa convivência. Barracas se amontoavam à beira da praia; casas eram construídas onde houvesse dez metros quadrados de chão sem um barraco em cima; lixões apareciam em plena zona urbana; espaços que teriam de reservados para as ruas viravam salas, quartos e cozinhas. A Ilha de Itamaracá se tornou o maior polo presidiário do Nordeste, talvez do Brasil, inventando uma nova modalidade de “lazer”: o turismo de insegurança máxima.

Em pouco tempo, as condições de acolhimento aos moradores e visitantes se deterioraram profundamente. E assim, como seria de esperar, os turistas com poder aquisitivo suficiente para induzir o desenvolvimento do local foram embora, ou jamais chegaram. Ficaram, apenas, os que já tinham construído casas e não conseguiram vendê-las, os beneficiários de invasões e os comerciantes instalados em barracos irregulares. Nos fins de semana, as praias se enchem de pessoas pobres, vindas em ônibus das cidades vizinhas, num tipo de turismo que pode até ser democrático, no curto prazo, mas que, com a passagem do tempo, mostra-se desastroso, pois não gera estímulos ao crescimento da renda ou do emprego de boa qualidade.

Desde então, ou seja, há 40 anos, a região amarga décadas de esquecimento, estagnação, abandono. Agora, com a Fiat, a Hemobras, a fábrica de vidros, a nova Votorantim, o prometido porto, talvez, um aeroporto internacional, as esperanças voltaram, mas podem, outra vez, ser frustradas. Serão frustradas, se os atuais e futuros prefeitos, juntamente com o governo do Estado, permitirem que se repitam desastres urbanos como os mencionados acima.

É possível evitar isso e fazer renascer as esperanças. De um lado, devem ser adotadas medidas corretivas para amenizar o caos que se instalou. Felizmente, muitos dos problemas antigos comportam soluções simples – como a reurbanização das orlas marítimas e a recuperação de praças e das áreas próximas a monumentos históricos. Alguma coisa nesse sentido já vem sendo feita em municípios como Olinda e Paulista.

Para os problemas futuros, os que ainda serão criados como consequência da expansão econômica prevista, deve ser feito o planejamento urbano que inclua, na sua dimensão mais arrojada, a criação de uma cidade inteiramente nova, no Litoral Norte, uma ideia que tenho defendido há algum tempo. (Tenho até um nome – Duarte Coelho – para a nova cidade, cuja localização ideal seria nas terras altas entre Igarassu e Goiana.) Claro que não basta planejar. Será preciso exigir que aquilo que vier a ser planejado seja, efetivamente, posto em prática.

Mas, com esses prefeitos que aí estão, sabe-se lá o que vai acontecer…


Publicado em 24 de março de 2012 no portal Leitura Crítica, link: http://www.leituracritica.com/?author=16

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