(Publicado em Leitura Crítica, 24 de março de 2012)
Gustavo Maia Gomes
Foi notícia nos jornais da primeira
semana de março: a terraplenagem da área prioritária em que se instalará
a montadora de automóveis Fiat, em Goiana, está concluída. Tempo de
brindar, tempo de pensar. Pois já houve outro momento, 40 anos atrás, em
que também se disse haver chegado a hora e a vez do Litoral Norte de
Pernambuco. A grande esperança, então, era o turismo. Mas as promessas
nunca foram cumpridas e a região foi ficando para trás, não somente na
atração de visitantes. Em tudo.
Por que deu errado?
Em parte, porque o Litoral Sul – Porto
de Galinhas, especialmente – se tornou a menina dos olhos do governo
estadual, que para lá dirigiu, com exclusividade, as atenções e as
verbas do Prodetur (o Programa de Desenvolvimento do Turismo do
Nordeste, financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento e
administrado pelo Banco do Nordeste). Mas deu errado, principalmente,
porque os municípios do Litoral Norte tiveram a infelicidade de ser
administrados por uma sucessão de prefeitos incompetentes,
irresponsáveis, burros. Se eram, também, corruptos, não sei, ou não
tenho como provar. Nem preciso.
O fato é que, a partir dos anos 1970, a
ocupação do Litoral Norte foi sendo feita em ritmo intenso, mas sem
obedecer a qualquer plano urbanístico ou, sequer, a simples regras de
boa convivência. Barracas se amontoavam à beira da praia; casas eram
construídas onde houvesse dez metros quadrados de chão sem um barraco em
cima; lixões apareciam em plena zona urbana; espaços que teriam de
reservados para as ruas viravam salas, quartos e cozinhas. A Ilha de
Itamaracá se tornou o maior polo presidiário do Nordeste, talvez do
Brasil, inventando uma nova modalidade de “lazer”: o turismo de
insegurança máxima.
Em pouco tempo, as condições de
acolhimento aos moradores e visitantes se deterioraram profundamente. E
assim, como seria de esperar, os turistas com poder aquisitivo
suficiente para induzir o desenvolvimento do local foram embora, ou
jamais chegaram. Ficaram, apenas, os que já tinham construído casas e
não conseguiram vendê-las, os beneficiários de invasões e os
comerciantes instalados em barracos irregulares. Nos fins de semana, as
praias se enchem de pessoas pobres, vindas em ônibus das cidades
vizinhas, num tipo de turismo que pode até ser democrático, no curto
prazo, mas que, com a passagem do tempo, mostra-se desastroso, pois não
gera estímulos ao crescimento da renda ou do emprego de boa qualidade.
Desde então, ou seja, há 40 anos, a
região amarga décadas de esquecimento, estagnação, abandono. Agora, com a
Fiat, a Hemobras, a fábrica de vidros, a nova Votorantim, o prometido
porto, talvez, um aeroporto internacional, as esperanças voltaram, mas
podem, outra vez, ser frustradas. Serão frustradas, se os atuais e
futuros prefeitos, juntamente com o governo do Estado, permitirem que se
repitam desastres urbanos como os mencionados acima.
É possível evitar isso e fazer renascer
as esperanças. De um lado, devem ser adotadas medidas corretivas para
amenizar o caos que se instalou. Felizmente, muitos dos problemas
antigos comportam soluções simples – como a reurbanização das orlas
marítimas e a recuperação de praças e das áreas próximas a monumentos
históricos. Alguma coisa nesse sentido já vem sendo feita em municípios
como Olinda e Paulista.
Para os problemas futuros, os que ainda
serão criados como consequência da expansão econômica prevista, deve ser
feito o planejamento urbano que inclua, na sua dimensão mais arrojada, a
criação de uma cidade inteiramente nova, no Litoral Norte, uma ideia
que tenho defendido há algum tempo. (Tenho até um nome – Duarte Coelho –
para a nova cidade, cuja localização ideal seria nas terras altas entre
Igarassu e Goiana.) Claro que não basta planejar. Será preciso exigir
que aquilo que vier a ser planejado seja, efetivamente, posto em
prática.
Mas, com esses prefeitos que aí estão, sabe-se lá o que vai acontecer…
Publicado em 24 de março de 2012 no portal Leitura Crítica, link: http://www.leituracritica.com/?author=16
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