sábado, 13 de julho de 2013

Eis que surge o grande candidato da Oposição


Apareceu, finalmente, o candidato que irá encerrar os doze anos de governo petista. Não posso, ainda, dizer seu nome. Mas a entrevista que ele deu, em segredo, a um jornal paulista me foi passada por Edward Snowden, sob a promessa de que eu só a revelaria depois das eleições de 2014.
Hesitei um pouco, mas resolvi publicá-la agora. Afinal, que autoridade tem esse senhor para me exigir silêncio? Ainda mais que ele mora no aeroporto de Moscou, de onde fala em espionagem tanto quanto a Rádio CBN fala em futebol. Oh, Snowden. Vem morar em um aeroporto brasileiro, prá ver o que é bom!
Jornal de São Paulo: Quais são, em sua opinião, os grandes desejos da população brasileira?
Candidato da Oposição: O Brasil quer mudar. Mudar para crescer, incluir, pacificar. Mudar para conquistar o desenvolvimento econômico que hoje não temos e a justiça social que tanto almejamos. Há em nosso país uma poderosa vontade popular de encerrar o atual ciclo econômico e político.
Jornal: Mas os governos Lula e Dilma sempre elogiaram muito a si mesmos. As verbas de propaganda nunca foram tão altas e, até três semanas, a presidente nadava em recordes de popularidade. Era tudo mentira?
Candidato: Se, em algum momento, ao longo dos últimos anos, o atual modelo conseguiu despertar esperanças de progresso econômico e social, hoje a decepção com os seus resultados é enorme. Dez anos depois, o povo brasileiro faz o balanço e verifica que as promessas fundamentais foram descumpridas e as esperanças frustradas.
Jornal: Por que os brasileiros estão frustrados? Que promessas foram descumpridas pelos governos do PT?
Candidato: A economia não cresceu e está muito mais vulnerável, a soberania do país ficou em grande parte comprometida, a corrupção continua alta e, principalmente, a crise social e a insegurança tornaram-se assustadoras.
Jornal: De fato, basta a China crescer pouco menos e uma crise se instala no Brasil. A soberania também foi pelos ares, pois a Presidente nada fez diante da espionagem americana. Sobre a corrupção e a insegurança, não precisamos dizer nada. Há saída?
Candidato: O sentimento predominante em todas as classes e em todas as regiões é o de que o atual modelo esgotou-se. Por isso, o país não pode insistir nesse caminho, sob pena de ficar numa estagnação crônica ou até mesmo de sofrer, mais cedo ou mais tarde, um colapso econômico, social e moral.
Jornal: Não seriam os problemas atuais uma crise passageira, que o governo poderia superar fazendo novas desonerações de impostos, criando outro programa populista como Minha Casa Minha Sobrevida, segurando o preço da gasolina (mesmo à custa de arruinar a Petrobras), ou dando mais dinheiro aos empresários, via BNDES?
Candidato: A sociedade está convencida de que o Brasil continua vulnerável e de que a verdadeira estabilidade precisa ser construída por meio de corajosas e cuidadosas mudanças que os responsáveis pelo atual modelo não querem absolutamente fazer. A crescente adesão à nossa candidatura assume cada vez mais o caráter de um movimento em defesa do Brasil.
Jornal: Lula e Dilma se vangloriavam (agora andam calados, compreende-se) de ter reduzido a vulnerabilidade externa e criado um amplo mercado interno no Brasil. Ao mesmo tempo, o ministro da Fazenda responsabiliza o Banco Central americano por tudo de ruim que nos acontece – admitindo, portanto, que continuamos vulneráveis. O mercado interno não sustenta a economia. Que caminhos o PT fracassou em percorrer?
Candidato: O caminho das reformas estruturais que de fato democratizem e modernizem o país, tornando-o mais justo, eficiente e, ao mesmo tempo, mais competitivo no mercado internacional. O caminho da reforma tributária, que desonere a produção. Da reforma agrária que assegure a paz no campo. Da redução de nossas carências energéticas e de nosso déficit habitacional. Da reforma previdenciária, da reforma trabalhista e de programas prioritários contra a fome e a insegurança pública.
Jornal: Da sua relação de fracassos do PT, talvez devêssemos excluir os programas contra a fome. Lula pegou carona no Bolsa Escola, de FHC, ampliou-o enormemente e colheu dele os frutos políticos na forma de votos. Mas isso não foi suficiente para deixar a população satisfeita. A que o senhor atribui as recentes manifestações nas ruas, que levaram a popularidade da Presidente a despencar?
Candidato: Trata-se de uma crise de confiança na situação econômica do país, cuja responsabilidade primeira é do atual governo. Por mais que o governo insista, o nervosismo dos mercados e a especulação dos últimos dias não nascem das eleições [de 2014]. Nascem, sim, das graves vulnerabilidades estruturais da economia.
Jornal: As mudanças de rumo do Banco Central na gestão Dilma estão contribuindo para agravar essas vulnerabilidades?
Candidato: O Banco Central acumulou um conjunto de equívocos que trouxeram perdas às aplicações financeiras de inúmeras famílias. Que segurança o governo tem oferecido à sociedade brasileira? Tentou aproveitar-se da crise para ganhar alguns votos e, mais uma vez, desqualificar as oposições, num momento em que é necessário tranquilidade e compromisso com o Brasil.
Jornal: Está sugerindo que as manobras da Presidente tentando convocar uma Constituinte, fazer um plebiscito, convocar médicos cubanos de competência duvidosa, distribuir mais dinheiro para os prefeitos são apenas maneiras de iludir o povo, fazendo de conta que os protestos não são contra ela? Há uma conspiração em marcha?
Candidato: Como todos os brasileiros, quero a verdade completa. Acredito que o atual governo colocou o país novamente em um impasse. O caminho para superar a fragilidade das finanças públicas é aumentar e melhorar a qualidade das exportações e promover uma substituição competitiva de importações no curto prazo.
Jornal: O PT também prometeu isso. E, pelo jeito, não fez nada. Como o senhor, se eleito, irá enfrentar o problema?
Candidato: A reforma tributária, a política alfandegária, os investimentos em infra-estrutura e as fontes de financiamento públicas devem ser canalizadas com absoluta prioridade para gerar divisas. Superando a nossa vulnerabilidade externa, poderemos reduzir de forma sustentada a taxa de juros. Poderemos recuperar a capacidade de investimento público, tão importante para alavancar o crescimento econômico.
Jornal: Reduzir a taxa de juros é um bom tema de debate. Não foi isso que a atual presidente prometeu fazer, apenas para voltar atrás, vergonhosamente, ao primeiro sinal de que a inflação estava recrudescendo?
Candidato: Ninguém precisa me ensinar a importância do controle da inflação. Iniciei minha vida política indignado com o processo de corrosão do poder de compra dos salários dos trabalhadores. Quero agora reafirmar esse compromisso histórico com o combate à inflação.
Jornal: As pesquisas internas ao seu partido já dão como certa a vitória nas eleições presidenciais de 2014. Que mensagem final o senhor gostaria de deixar, nesta entrevista, para o povo brasileiro?
Candidato: O que nos move é a certeza de que o Brasil é bem maior que todas as crises. O país não suporta mais conviver com a idéia de uma quarta década perdida. O Brasil precisa navegar no mar aberto do desenvolvimento econômico e social. É com essa convicção que chamo todos os que querem o bem do Brasil a se unir em torno de um programa de mudanças corajosas e responsáveis.
REVELAÇÃO
Uma revelação final, também devida a Edward Snowden: todas as respostas dadas pelo “Candidato” na entrevista acima foram retiradas, literalmente, da “Carta ao Povo Brasileiro”, divulgada em 22 de junho de 2002 pelo então candidato do PT à Presidência da República Luís Inácio Lula da Silva. Mudei as referências a datas ou intervalos de tempo constantes do texto original, substitui “vida sindical” por “vida política”, e corrigi os erros de português mais graves, com a intenção de não entregar cedo demais ao leitor o nome verdadeiro do “entrevistado”. O texto da “Carta ao Povo Brasileiro” está em http://www.iisg.nl/collections/carta_ao_povo_brasileiro.pdf (13/7/2013)

Gustavo Maia Gomes

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