domingo, 21 de julho de 2013

Energias eólica e solar são opções ao semiárido

CARLOS EUGÊNIO (Repórter)
Diário do Nordeste, Fortaleza, 20.07.2013
Reconhecidamente uma das regiões mais pobres do Brasil, com 18,3% da extensão territorial do País, 28% da população do Nordeste e com PIB per capita equivalente a um terço do PIB per capta brasileiro, o semiárido precisa quebrar o paradigma do atual modelo produtivo pautado na agropecuária tradicional e buscar novos caminhos, investir em outros setores com maior potencial tecnológico e menos dependente dos recursos hídricos e da regularidade de água de chuva - que não tem. A observação é do economista, professor da Universidade Federal de Pernambuco, e consultor, Gustavo Maia Gomes, para quem "a agropecuária tradicional do semiárido não tem perspectiva de crescimento. Não tem saída, sem que haja uma revolução tecnológica no setor. A atividade ainda não está condenada, mas nos atuais padrões tecnológicos não terá vida futura".
Para ele, os caminhos para uma economia sustentável para o semiárido passam por investimentos em produtos e setores como os de energias eólica e solar, a indústria intensiva de produção de calçados e confecções ou de serviços de educação, por exemplos. "O que não nos falta é sol, vento. Temos vento com ou sem chuva. Então, por que não investirmos em energias renováveis? É um caminho, pelo qual podemos estar no limiar de uma nova cultura tecnológica", sugere.
Regra de sensatez
Palestrante do tema "Desafios à Região Semiárida", no Seminário Brasileiro e o Desenvolvimento Regional, promovido pelo Banco do Nordeste (BNB), na última quinta-feira, Gomes defende que as políticas públicas voltadas à região devem sair da mesmice e investir em outros caminhos, que assegurem o desenvolvimento de uma economia sustentável e menos dependente dos programas de transferência de renda - do Bolsa Família, por exemplo.
"Não há uma receita pronta, mas precisamos de uma regra de sensatez, que não continue a incentivar no semiárido atividades muito consumidoras de água, como a agropecuária, que é, tradicionalmente, uma economia de subsistência. Precisamos investir em pesquisa tecnológica, se quisermos melhorar a qualidade de vida das pessoas que vivem na região", alertou o economista.
Indústria
"Por que não pensarmos em polos de confecções de calçados?", cobrou, perante um auditório repleto de economistas da região, produtores rurais e técnicos do BNB. "Podemos ter indústrias na região, mesmo com a seca ao redor", avalia.
Ele citou o exemplo do polo de confecções do Agreste de Pernambuco, onde, "mesmo em plena seca, em dezembro último, encontrava-se em plena atividade". Gomes reconhece que, nesse setor há riscos das empresas se instalarem e, extinto os benefícios fiscais, irem embora. "Muitas empresas vieram (para o interior da região) no bojo da guerra fiscal e com a mesma facilidade que chegam, se vão", diz.
O palestrante apontou ainda, a agricultura irrigada como alternativa ao desenvolvimento social e econômico do semiárido, desde que se invista no desenvolvimento de novas e variadas culturas. "Não podemos continuar apenas produzindo uva e manga", ponderou, citando os casos dos polos fruticultores de Petrolina, em Pernambuco, e do vizinho, Juazeiro, na Bahia.
"Há quase 20 anos não se implanta um novo perímetro irrigado no submédio São Francisco", protestou o economista. O produtor rural de Vale do Açu, Montenegro, tem opinião semelhante e disse que para continuar exportando e tendo mercado, diversificou a produção de frutas e hoje produz 16 variedades de melão, e outras de melancia e banana. "O semiárido do Nordeste é viável, se juntarmos capital, tecnologia e mão de obra", orienta o fruticultor.
Setores atuam como alternativas para região
Considerada pelos economistas como atividades reflexos, o comércio e os serviços são outras opções de atividades indutoras da economia para o semiárido nordestino. "O comércio varejista responde aos estímulos de investimentos nas áreas da saúde, educação e até no turismo", acrescenta, o economista Gustavo Maia Gomes. Ele apontas as cidades de Sobral, Crato e Juazeiro do Norte, no Ceará, e Caruaru, em Pernambuco, onde esses setores fluem e geram riquezas, independentemente de chuvas, de disponibilidade de água.
"O maior desafio é como se instaurar uma economia viável, em ambiente desfavorável, com escassez de água, seca e com capital humano com baixa capacitação", destacou, ao questionar ainda, o atual modelo de transferência de renda, denominado por alguns economistas como "economia sem produção".
Bolsa Família
"Essa é uma forma errada de se fazer economia, apesar dos benefícios iniciais do Bolsa Família", frisou, destacando que, em dez anos, a "economia sem produção" dobrou na região, em detrimento da produção sustentável. No momento da crítica, à tarde de quinta-feira, a presidente Dilma Rousseff se encontrava, do outro lado da cidade, no Centro de Eventos do Ceará, anunciando que o programa Brasil Sem Miséria vai destinar R$ 48 milhões para mais 20 mil famílias rurais cadastradas no programa Bolsa Família. Distante do debate sobre a economia do semiárido do Nordeste, Dilma discursava dizendo que "o Bolsa Família continuará sendo pago enquanto houver um brasileiro, uma brasileira que precise dele. Esse é o compromisso do meu governo e foi o compromisso do governo Lula. Somente quem não conhece o Bolsa Família é capaz de criticá-lo".
Ufanismo
Ao questionar o atual modelo de desenvolvimento regional,- que em sua segunda fase ainda não disse ao que veio, - Gustavo Gomes não poupou críticas ao Banco do Nordeste e a lideranças políticas da região. "Gostaria de destacar a minha crítica ao clima de ufanismo com o que anunciam o crescimento dos números de financiamentos e empréstimos concedidos pelo banco", protestou, numa referência ao balanço das operações de crédito divulgado na abertura do seminário. Pela manhã, o BNB anunciou que os financiamentos do FNE cresceram 63% este ano.

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