quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Notícia velha, mas significativa

Gustavo Maia Gomes

A notícia é de 2009; sua atualidade, inquestionável.

“Num ato político, movimentos sem-terra liderados pelo MST ocuparam ontem uma fazenda [Monte Verde, em Branquinha, Alagoas] do Grupo João Lyra. As terras são produtivas e não consta qualquer irregularidade em sua administração. Mesmo assim, MST, CPT [Comissão Pastoral da Terra] e MSLT [Movimento de Libertação dos Sem Terra], com apoio da CUT [Central Única dos Trabalhadores] e sindicatos, pressionam o Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] por uma vistoria e posterior desapropriação.” (Gazeta de Alagoas, Maceió, 10/3/2009, pág. 1)
Monte Verde é a fazenda que pertenceu a meus pais, onde Ivan, Ivanilda e eu passávamos as férias, indo “de trem para Branquinha”. Foi vendida há muitos anos, primeiro para uma usina também pertencente aos Maia Gomes, depois, para o Grupo João Lyra. Não tenho simpatia especial por usineiros. Como estudioso da economia regional, acho que o Nordeste foi infeliz ao eleger a cana-de-açúcar como produto básico no início da sua história. Em todo o mundo, a cana e o açúcar estiveram associados à escravidão e a sociedades com atraso tecnológico e grave concentração de renda.
Mesmo assim, se a cana era um problema, a sua falta tem sido uma tragédia.

SIMPATIA? – POUCA.
Não, não tenho simpatias especiais por usineiros. Mas também sei que esses ditos “movimentos sociais” não passam de organizações espúrias que se utilizam de métodos criminosos para atingir não a reforma agrária, mas a manutenção de seus esquemas de generoso financiamento pelos governos (nos últimos anos) petistas. Estou para ver um desses assentamentos que seja capaz de pagar suas próprias contas, sem auxílio oficial. Os padres católicos (via CPT), por sua vez, assumem bandeiras estranhas não por amor a Cristo, mas como uma estratégia de sobrevivência diante da avassaladora onda evangélica que ameaça seus empregos.
No tempo de meus pais e avós, Monte Verde não foi um modelo de produtividade. Eu estaria muito satisfeito se, nos anos posteriores àqueles em que frequentei a fazenda, ela, já não pertencente à minha família, se tivesse tornado um lugar de onde uma porção de gente tirasse o seu sustento, produzindo muito e enriquecendo a todos. Não foi isso que aconteceu, nem antes do MST, nem, muito menos, depois.
Estive com meu irmão Ivan em Branquinha, município onde está Monte Verde, em fevereiro de 2014. (Isso foi registrado em meu blog, veja em http://gustavomaiagomes.blogspot.com.br/2014/02/a-cidade-que-o-trem-trouxe-e-o-rio-levou.html). Copio uma parte do que escrevi, logo depois daquela visita:

DIÁLOGOS BRANQUINHENSES
No antigo coração de Branquinha, naquela manhã de sábado, sete jovens estavam reunidos fazendo nada.
– “Vocês trabalham na cana?”, perguntei-lhes.
– “Não há mais cana aqui”, respondeu um deles.
– Então, o que fazem?
– Nada. Quando aparece algum serviço, a gente faz, mas é raro.
O que nos pareceu um escândalo, a Ivan e a mim, não preocupava os jovens. Por quê?
– “Tem Bolsa Família?”, indaguei ao mais velho.
– Não.
– Mas, alguém em sua casa tem?
– Tem, sim.
Fiz a mesma pergunta a cada um dos outros seis. Só um deles não tinha a bolsa. Estava um pouco mais bem vestido. Talvez fosse filho do prefeito ou de um vereador. Conclui que, para os branquinhenses, o Bolsa Família tornou-se um projeto de vida.


(PS. Enquanto isso, o MST invade fazendas produtivas, destruindo a pouca produção que ainda se fazia em Branquinha. Não, não há mais cana. Não há mais nada.)

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