Gustavo Maia Gomes
Nos últimos três anos e meio, o Recife teve como
prefeito um homem parado, escondido, ausente, inexpressivo. Uma lesma. Não uso
a imagem com intenções desrespeitosas, mas descritivas.
A cidade sofreu as consequências. Ruas com buracos se
transformaram em buracos com ruas; novos edifícios se amontoaram nos locais
mais impróprios, denotando a legislação permissiva, frouxa, ou, pior ainda, seu
flagrante descumprimento; a coleta de lixo, que nunca fora boa, passou a ser
péssima.
Mas, então, chegou o ano das eleições e o homem ficou
sabendo que seu partido não queria lhe permitir candidatar-se a mais quatro
anos fazendo nada. Até um concorrente apareceu, com o velado apoio das mais
poderosas forças políticas do Estado. E de Lula. Todo poder emana de Lula e em
seu nome será exercido.
Aí ocorreu o inesperado: em poucas semanas, a lesma
virou leão. “Tem outro candidato? Disputarei no voto.” “Roubam-me a vitória na
prévia? Faremos outra.” “O Diretório Nacional quer que os dois pré-candidatos
desistam? Que o bonitinho desista; eu continuo.” Na sua heróica resistência, o
recém-leão chegou à bravata de dizer: “não abro nem para um trem”.
Admirável, diriam alguns. Esquisito, dirão outros.
Pois, se o homem é um leão na hora de lutar pela sua boquinha, por que passou três
anos e meio parado, escondido, ausente, inexpressivo, quando deveria estar
administrando a cidade?
Não é evidente que, se o leão vencer todos os
obstáculos, chegar a ser candidato e ganhar a eleição de outubro, o Recife
terá, de novo, por mais quatro anos, como prefeito uma lesma?
(Publicado no Facebook em 1 de junho de 2012)
Nenhum comentário:
Postar um comentário