sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Maomé, dinamites, e a mulher de Jesus

Gustavo Maia Gomes
Enquanto ouço o melhor da música popular brasileira, tento escrever sobre Maomé e Jesus. Ambos frequentaram a mídia, esta semana. O primeiro, pelas razões habituais: incapazes de admitir opiniões diversas daquelas em que são obrigadas a acreditar, multidões de muçulmanos atearam fogo em tudo, a propósito de nada. Do segundo, descobriu-se que, além dos doze apóstolos, teve uma mulher.
Dessa vez, Maomé ganhou de Jesus por muitas dinamites. Paradoxalmente, o filminho irrelevante contendo críticas à sua religião (A Inocência dos Muçulmanos compara o Islã a um câncer), que deflagrou os protestos, teria passado em branco, não fossem as arruaças subsequentes: já eram 25 mortos, até ontem. Dentre eles, o embaixador dos Estados Unidos na Líbia.
Permitir que uma crítica ao Islã seja feita está fora de cogitação. Em contraste, ninguém morreu por dizer que Jesus era casado, embora isso também divirja da ortodoxia católica. Ótimo. Mas, antes de o leitor concluir que os cristãos respeitam (e os maometanos, não) as divergências, aponto para a legenda que coloquei na figura: os muçulmanos matam embaixadores porque podem; os cristãos assavam infiéis porque podiam. O que é igual não é diferente.
Esqueci da música? Não. Apenas compreendi que misturar as três coisas num mesmo texto seria difícil, pois melodias evocam refinamento e convidam ao amor, ao passo que os ensinamentos dos dois líderes religiosos enaltecem a ignorância e justificam o ódio.
MAOMÉ E A INTOLERÂNCIA
Maomé não foi um homem culto. Menos ainda, tolerante. Muitas das aberrações perpetradas hoje pelos islâmicos têm sua origem lá atrás, no profeta. Dou quatro exemplos, tirados do noticiário sobre o filme A Inocência dos Muçulmanos.
Sudão bloqueia You Tube para impedir difusão do filme anti-Islã
No Sudão, o ditador Omar Al-Bashir tomou o poder em 1989, por meio de um golpe. Destruiu a oposição e mandou matar milhões de adversários. Não satisfeito, roubou nove bilhões de dólares. Claro que os sudaneses tinham de proibir o filme. Sem problemas a resolver, pois a leitura do Corão e as orações diárias lhes bastam, com que mais iriam eles se preocupar?
Paquistão pede que EUA retirem filme anti-Islã do You Tube
Do Paquistão, vem a notícia de que uma garota de 14 anos, analfabeta e com problemas mentais, está presa há três semanas, acusada de queimar papeis com versos do Alcorão. O crime é tão grave que ela pode pegar prisão perpétua. Enquanto o mundo pede ao Paquistão que liberte a garota, o Paquistão pede aos Estados Unidos que retirem um filme do You Tube. Eles acham isso importante; aquilo, não.
Corte de Los Angeles nega remoção de vídeo
De vez em quando, os Estados Unidos nos fazem lembrar que não são somente a terra dos Mac Donald’s, das pipocas no cinema, da debilidade mental disneylandina. (Conheço uma mulher que tremeu toda ao apertar a mão do Mickey Mouse. Ou seja: eles produzem a imbecilidade; nós a compramos.) Os norteamericanos são, também, um povo que respeita a liberdade de expressão. Ninguém iria botar na cadeia o diretor de Doze homens e uma mulher, com Jesus de personagem-título. Nem a Corte de Los Angeles vai mandar o You Tube bloquear o acesso à Inocência dos Muçulmanos.
Líder muçulmano rasga Bíblia em protesto contra filme anti-Islã
Queimar a bandeira dos Estados Unidos dá status – e já aconteceu no presente contexto. Agora aparece o líder muçulmano que destruiu a Bíblia. (Se o rapaz gosta tanto de rasgar livros, por que não pratica com as cinco mil páginas da Lista Telefônica de São Paulo?) Não que a Bíblia seja um grande livro, exceto como documento histórico. Em todos os demais aspectos, ela é um repositório de anedotas falsas e alucinações verdadeiras, tanto quanto o Alcorão. Mas entre reconhecer isso e rasgá-la vai uma grande distância.
JESUS E AS MULHERES
O respeito pela diversidade de opiniões tampouco foi o ponto forte de Jesus, que se considerava o único caminho para um único lugar. Suas ideias misturam amor e punição eterna, mas são, de qualquer modo, irrelevantes, tendo sido apropriadas e reinterpretadas pela Igreja, a ponto de se tornarem irreconhecíveis. Por exemplo, não existe, no Jesus dos evangelhos, a ojeriza ao sexo que depois marcou tão fortemente a doutrina cristã. Omissão, sim, mas não repúdio.
Talvez por isso, quando divulgou o conteúdo do texto que cita Jesus falando “minha mulher”, a professora Karen King, da Universidade Harvard, tenha tido o cuidado de dizer que aquilo não era prova definitiva de que ele fora casado, mas, apenas, “a primeira declaração inequívoca de que teve uma mulher". Mesmo assim, os cristãos se sentiram chocados; o Vaticano já garantiu que não pode ser; a simples ideia de que Jesus teve uma esposa deixa os padres perplexos.
O paradoxo é que a ninguém jamais chocou a exclusiva convivência de Jesus com os doze discípulos, que bem poderia permitir ilações variadas. Não que a homossexualidade seja, hoje, motivo de escândalo. Mas já foi. Mesmo assim, a Igreja sempre preferiu deixar Jesus passeando em tempo integral com seus apóstolos a admitir que, nos intervalos, ele tivesse uma mulher.
E aí vem essa professorinha contar uma história nova. Deve ter deixado muita gente com saudades da Inquisição.

(GMG, 21/09/2012)

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