sábado, 11 de julho de 2015

As indústrias e profissões de Belém no século XIX

Gustavo Maia Gomes

Em 1872, quando o governo imperial fez o primeiro censo demográfico do país, Belém (62 mil habitantes) tinha duas vezes o tamanho de São Paulo (31 mil). Era a quarta maior cidade do Brasil, atrás apenas do Rio de Janeiro (275 mil), Salvador (129 mil) e Recife (117 mil). A capital paraense se beneficiava, sobretudo, da crescente produção regional de borracha, que já respondia por 80% das exportações provinciais.
Desde 1864, a cidade tinha iluminação a gás, um progresso sobre o sistema anterior de lampiões queimando petróleo. A liberação para navios estrangeiros do rio Amazonas (1867) impulsionara o movimento no porto de Belém. A prosperidade era evidenciada, também, nas obras do Teatro da Paz (inaugurado em 1878) e nos recém-enunciados projetos de canalizar água potável e calçar as principais ruas.
Mas, em que trabalhavam os habitantes da cidade? Um Relatório de 1871 dá uma preciosa resposta a essa pergunta. Ao recensear os contribuintes do “Imposto sobre indústrias e profissões desta cidade”, o presidente da Província Abel Graça nos informa que havia na capital, entre muitas outras, as seguintes atividades e respectivos profissionais:
- 18 advogados
- 31 alfaiates com estabelecimentos
- 51 donos de açougues
- Onze mercadores de carroças e carros de boi com pipa d’água
- 40 donos de casas de pasto

E mais:
- 51 donos de carroças de aluguel
- 15 proprietários de carros e seges para alugar
- 55 mercadores por grosso de tecidos ou fazendas
- 128 mercadores por miúdo de tecidos ou fazendas
- Oito mercadores por grosso de ferragens
- 40 padarias

Ainda mais:
- 14 médicos
- Nove mercadores de madeira
- Nove sapateiros com estabelecimento
- Dez torrefações de café
- 15 mascates ou bufarinheiros (!)

Também havia quem desempenhasse atividades menos comuns, algumas das quais, hoje, ou continuam a ser muito raras ou já nem existem.
- Um dono de cocheiras de cavalos a trato e de aluguel
- Um dono de casa de banhos
- Um mercador de fumo em rolo
- Um trapicheiro
- Três tanoeiros com estabelecimento

A indústria mais bem representada na Belém de 1871 era a de tavernas: havia 224 delas. Atendiam bem à demanda, presumo. Na verdade, quem viveu na cidade, àquela época, só não foi mais feliz porque ainda não existia o Papão da Curuzu, menos conhecido como Paysandu Sport Club, criado em 1913.
(Fonte dos dados sobre as indústrias e profissões: Relatório à Assembleia Legislativa Provincial apresentado em 1871 pelo Presidente da Província do Pará, Abel Graça, págs. 32 e ss).

Publicado no Facebook, 21/6/15

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