quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Não nasci no Rio Doce

Gustavo Maia Gomes
Em texto publicado n'O Globo de ontem (22/11/15), ou anteontem, a excelente jornalista Miriam Leitão revela ter nascido entre Minas Gerais e o Espírito Santo, assim como o Rio Doce. Está triste, revoltada, com o mar de lama que destruiu suas melhores lembranças.
Fernando Gabeira, também brilhante, igualmente, mineiro, em artigo publicado no mesmo jornal, um dia antes, mostra-se perplexo. Homem de TV, ele fez, há pouco tempo, programa sobre a cidade de Rio Doce, onde o rio nasce e, há meio século, ninguém morre assassinado.
Eis que mataram o Rio Doce. E vinte pessoas. E um pedaço de Mariana, a cidade. E todos os peixes. E a água nas torneiras. E as lembranças de Miriam Leitão. Eu não nasci lá, nem fiz programa de TV sobre uma terra sem crimes. Mesmo assim, me sinto atingido. Quem matou o Rio Doce?
Eu sei quem matou Odete Roitmann. Eu conheço o assassino de Kennedy. Eu sei que Par Tido acabou com o Brasil. Eu fui informado de qual grupo terrorista executou aquela covardia em Paris. Até quantas balas mataram João Pessoa, eu sei. Eu só não sei quem matou o Rio Doce.
Terá sido a empresa mineradora, que construiu uma represa insegura e não cuidou de sua manutenção? É possível. Terão sido os sucessivos governos, que emitiram licenças indevidas, fecharam os olhos para o desastre iminente, e apenas contaram os mortos, quando veio o pipoco? Provavelmente, sim.
A propósito: Odete Roitmann foi personagem de uma telenovela, tem lá seus vinte anos. Saber quem a tinha matado tornou-se a principal preocupação dos brasileiros, por um tempo. O mistério só foi resolvido no último capítulo. Quem matou Odete Roitmann foi..., foi... FHC.
(Publicado no Facebook, 23/11/15)

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