sábado, 12 de novembro de 2016

Bondade do mal, maldade do bem

O capitalismo — com seus ingredientes necessários: a propriedade privada e a ampla liberdade do indivíduo buscar seu interesse próprio, mesquinho e egoísta — criou as mais ricas sociedades jamais vistas na História da humanidade. Estou falando da Europa ocidental contemporânea, dos Estados Unidos, Canadá, Japão, Austrália...

Além de ricas, também as mais inclusivas, não no sentido de igualdade econômica, mas do acesso de todas as pessoas a níveis de consumo com que seus antepassados jamais poderiam ter sonhado. Pegue um indivíduo classificado, hoje, como pobre na Alemanha, França, Inglaterra... Em 95 por cento dos casos, comparado ao seu tetravô, ele é milionário.

Além de ricas e inclusivas, também as mais abertas politicamente. Um camponês medieval — integrante da classe mais numerosa em lugares como os citados acima — só participava da grande política nas poucas ocasiões em que, passando fome, promovia uma revolta no campo. Nas sociedades capitalistas avançadas de hoje, o tetraneto daquele camponês elege seu governo — ou o destitui.

A despeito disso, o capitalismo está cheio de inimigos barulhentos — não estou falando do Brasil, onde isso é óbvio, mas, sobretudo, da Europa. Seus amigos, em contraste, são poucos, envergonhados, silenciosos. 

Debati, recentemente com um economista francês, chefe de um instituto de planejamento importante em Paris. Ele acha o capitalismo destruidor e a propriedade privada pecaminosa. (Esqueci de dizer que, além de economista francês — o que já bastaria —, ele também é padre.) Aconselhou-nos a imitar os nativos africanos ou os índios brasileiros, que não conhecem a propriedade privada. (E produziram aquelas sociedades de gosto duvidoso.)

Da África ou da selva amazônica para o socialismo, é só um passo. Quem poderia ser contra (assim pensa a boiada, não eu) um mundo oficialmente construído com base no amor ao próximo, na solidariedade? Sem propriedade privada, nem exploração do homem pelo homem... Como o fizeram Stalin, Mao Zedhong, Pol Pot, Fidel, o gordinho sinistro da Coreia do Norte... Um mundo planejado por intenções bondosas que produziram assassinatos em escala industrial, ditaduras ferozes e inclusão de todos (quase todos) na mesma miséria.

Pois eu dou vivas ao capitalismo: prefiro ter a bondade do mal do que a maldade do bem.

(Publicado no Facebook, 12/11/2016)

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