quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

A Carta de Stella Pedrosa para sua irmã Heloisa

Gustavo Maia Gomes
(6/12/2017)


(Imagem adicionada em 12-2-2019)
Em 26/10/ 1987, minha mãe, Maria Stella de Araújo Pedrosa (Pedrosa Bahia Maia Gomes, após casar-se com Mauro, em 1942) visitou a casa do Engenho Velho, em Santa Rita, Paraíba, onde havia passado a infância, desde o nascimento, em 1917, até 1925, quando ela, seus pais e irmãos se mudaram para a Usina Uruba, em Atalaia, AL.

Stella e eu trocamos cartas por vários anos (ainda não existiam os recursos modernos de e-mails, Skypes, WhatsApps, Messengers, etc), durante os períodos em que morei em São Paulo (1971-76), nos Estados Unidos (1979-83) e na Inglaterra (1987-88). Conservo comigo essa correspondência, mas minha mãe sempre foi muito econômica e reservada no que escrevia.

A mensagem parcialmente transcrita a seguir, enviada por Stella à sua irmã Heloisa (que morava em Belo Horizonte) em 8/4/1988, quebrou esse padrão. É inusitadamente prolixa e, sobretudo, reveladora de sentimentos que minha mãe não externava com facilidade. Agradeço a Martha, filha de Heloisa, ter presenteado a Ivan e a mim com o original daquela carta. Nela, além de falar sobre a visita à casa de sua infância, Stella detalha informações sobre os ancestrais Kuhn, Quanz, Kruss e Cardoso, que muito ajudaram Heloisa a redigir a memória da família.

Transcrevo o trecho que desejo deixar registrado aqui. Stella com a palavra:

No dia 26 de outubro do ano passado [1987, portanto], estive em “nossa” casa na atual Usina Santana, antigo Engenho Velho (ou Usina Pedrosa). Naquele dia, eu estava com Mauro acampando no Camping Clube João Pessoa. Pedi a Mauro que me levasse lá e ele concordou.

Aquela casa está ligada à minha primeira infância: todas as minhas recordações estão lá, salvo alguma lembrança da casa “da cidade”, onde mamãe esteve para ter seu sétimo filho, que morreu ao nascer. De lá, lembro alguns passeios no Parque Solón de Lucena, por exemplo, e a outra propriedade (não sei qual) que tinha um banho maravilhoso, num riacho de águas límpidas, entre árvores. Lembro também de meu primeiro balão de ar, que era roxo e lindo e que me deixou frustrada ao estourar.

As outras lembranças de minha infância até os sete anos estão naquela casa [do Engenho Velho]. Chegar lá, reconhecê-la e relembrá-la foi a volta a um mundo que está definitivamente no passado. As pessoas que habitavam ali comigo, inclusive eu mesma, são fantasmas, queridos fantasmas de minha infância feliz.


A emoção de reencontrar aquela casa, visitá-la e reconhecer seus recantos, suas salas, foi altamente emocionante e me deu a impressão de estar visitando um palco onde se representou uma peça infantil muitos anos atrás, [uma peça] cujas lembranças continuam vivas e presentes. Foi emocionante.

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