Gustavo Maia Gomes
(16/11/2017)
– É impossível – disse o ministro de
qualquer coisa, após ouvir o presidente expor sua ideia. – Mover o Pão de
Açúcar dois metros para o Norte? Impossível.
Foi demitido ali mesmo e obrigado a se retirar. A reunião continuou.
– Uma obra como nenhuma outra, desde
a muralha da China ou as pirâmides do Egito. Será a glória. Não a Marina da
Glória; a glória! E tem custo incalculável. Ninguém vai poder dizer que houve
superfaturamento – justificou o chefe.
Um sussurro geral de concordância se
ouviu na sala.
– Sabe quantos estádios poderemos
construir para a Copa, no país todo, dizendo terem sido ordens da Fifa? No
máximo, doze. E viadutos, elevados, avenidas...? Dez, vinte, trinta? Junte tudo
isso e não chega à metade do que gastaremos para mover o Pão de Açúcar.
– Mas, Excelência, como vamos
justificar a obra? – arriscou-se a perguntar um ministro remanescente.
– Ainda nem pensei nisso. É problema
do marqueteiro. Deve dizer que ela beneficia o povo humilde, sempre esquecido
pelos governos da elite.
Outro ministro, desapegado ao cargo,
resolveu bater na mesma tecla do que fora demitido meia hora antes:
– Mover uma pedra daquele tamanho não
deve ser tarefa fácil, nem para os melhores engenheiros.
Ao invés de trucidar o segundo Tomé,
o presidente explicou.
– Não vamos mover Pão de Açúcar
nenhum. Vamos fazer o povo acreditar que o deslocamos dois metros para a
esquerda. Isso basta. As empreiteiras adorarão. Nós ficaremos mais ricos.
Desta vez, a reação dos outros
ministros foi de perplexidade. Como assim? Como assim? O chefe prosseguiu:
– Começaremos construindo um grande
tapume em volta da pedra, deixando espaço suficiente para estacionar, dentro do
cercado, cinquenta caminhões. Toda madrugada, esses caminhões, carregados de
detritos, serão discretamente levados para o local da obra. Durante o dia, com
cobertura da imprensa, sairão dali, um a cada quinze minutos. Toda gente vai
pensar que uma grande obra está sendo feita no local.
O ministro descrente, porém, àquela
altura, seguro de que não perderia o cargo, levantou outra dúvida:
– Mas, o povo verá que a montanha não
se moveu coisa nenhuma.
– Engano seu – continuou o
presidente. – Uma vez por semana, o tapume será movido dez centímetros para a
direita. Antes de seis meses, a viagem da pedra se terá completado.
Publicaremos as fotos do tapume com a montanha por trás, antes e depois,
mostrando que o Pão de Açúcar andou mesmo.
Era um plano perfeito. Desconheço por
que não vingou. Ao invés, construíram-se os doze estádios, viadutos, avenidas.
De qualquer modo, a ideia foi a mesma. Os resultados, também.
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