segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

A maldição da cigana


Gustavo Maia Gomes
(30/11/2017)

Capa do livro de Marília Calheiros Guerra, 
neta de José Maia Gomes.
Nas suas memórias, Marília Calheiros Guerra conta que, em 1932, um bando de ciganos se chegou à principal fazenda do coronel e usineiro José Maia Gomes (1874-1946), em Alagoas. Não era a primeira vez, nem seria a última.
O velho não gostava daquela gente. Deu ordens para que os ciganos fossem expulsos. Foi afrontado pela mulher mais velha do grupo: “Homem orgulhoso, desalmado, um dia verá tudo isso ir por água abaixo. Perderá tudo, não ficará com um punhado dessa terra, um dia isso há de acontecer”.
José Maia Gomes, de quem Marília Maia Gomes Calheiros (o nome de solteira da memorialista) era neta, foi meu tio-avô.
"Coincidência ou não [foi o que aconteceu]. As terras foram saindo das mãos dos descendentes do coronel. Após sua morte, os filhos levaram, por algum tempo, a usina [Campo Verde] adiante. [O tio Manuel Maia Gomes] tentou evitar a falência, mas, não o conseguindo, concordou em entregar a usina ao Banco do Brasil para pagar as dívidas”.
No auge de sua vida econômica, José Maia Gomes chegou a possuir terras que se estendiam pelos municípios de Branquinha, Murici e União dos Palmares, na zona canavieira de Alagoas. Ao morrer, deixou três propriedades para cada um dos sete filhos. Marília continua:
“Uns preferiram vendê-las, outros nelas trabalharam por algum tempo (plantando cana para outras usinas). A última delas, a “Guanabara”, que coubera a tia Nadir e seu esposo Luís Gomes, foi dividida entre os irmãos Beroaldo [Maia Gomes Rego] e Amauri, após o falecimento dos pais. A do primeiro foi vendida para saldar compromissos; a do segundo, após sua morte e da esposa, ficou com a família desta, por falta de filhos do casal”.
“E assim”, concluiu Marília Guerra, que morava no Recife, mas cujas férias de criança e adolescente eram sempre passadas nas propriedades do avô, “o último palmo de terra, da boa e generosa terra da [usina] Campo Verde deixou de pertencer aos Maia Gomes”.
A maldição da cigana havia se realizado.

(Citações de Marília Calheiros Guerra, Retalhos do Passado. Recife, Ed. Autor, 2007, págs. 172-74.)
A velha estação ferroviária de Branquinha. 
Já desativada, à época da foto, desapareceu 
completamente em 2010, destruída 
pela enchente do Rio Mundaú. 
(Foto colhida na internet, site Estações Ferroviárias.)

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