Gustavo Maia Gomes
(10/11/2017)
Todos nós já dissemos privadamente
frases que não diríamos em público. Repetimos piadas de português. Imitamos
trejeitos de homossexuais. Debochamos da pátria. Desejamos que notórios
corruptos ainda não condenados em segunda instância sejam mortos em praça
pública.
Nelson Ferreira era negro. No carnaval de 1959, sua música de maior
sucesso tinha este refrão: "Dizem que em sessenta nego vai virar
macaco". E não parava aí: "Ah, meu deus, que grande confusão. Se for
verdade o que diz o profeta, penca de banana vai custar um milhão".
Não, leitor, o grande maestro e
compositor pernambucano não tinha preconceito contra sua própria raça. Não,
leitor, nem você, nem eu, apenas por termos pronunciado frases inconvenientes,
em conversas reservadas, merecemos ser execrados. Não somos xenófobos, nem
homofóbicos, nem traidores da Nação, nem nazistas.
William Waack é, acima de tudo, um
grande profissional da mídia. Tem livros valiosos publicados. Conduz com rara
maestria um programa de debates na TV por assinatura. Não se furta a emitir
opinião política forte, quando considera tal manifestação necessária.
Se ele disse, em ambiente fechado,
algo que não corresponde às suas convicções, que lhe fosse dada a oportunidade
de desculpar-se. O assunto estaria encerrado e continuaríamos todos a desfrutar
de sua atuação impecável como entrevistador na TV ou articulista nos jornais.
Tirá-lo de circulação, como se
anuncia ter sido feito por seus empregadores, é uma violência incomparavelmente
mais condenável do que o pecadilho que ele possa ter cometido. Além de que,
para piorar as coisas, a probabilidade maior é que seu substituto (cujo nome
desconheço, se já foi escolhido) venha a ser um idiota bem comportado.
Quando todas as posições, não apenas
na TV, mas na política, nos esportes, na cultura, nas igrejas, nas agências de
viagem, na puta que o pariu, estiverem preenchidas por idiotas bem comportados,
alguns de nós lembrarão com saudade de William Waack. Outros, satisfeitos com a
própria vitória, trarão de volta Dilma Rousseff e seus discursos à Presidência
da República.
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