segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

O encontro de Groucho Marx com o Barão de Itararé

Gustavo Maia Gomes
(7/11/2017)

(Achei isso e resolvi republicar. Saiu há mais de dois anos, portanto, todos já o terão esquecido. As frases citadas foram, realmente, escritas ou pronunciadas pelos dois personagens da história.)

Apparício Torelly (1895-1971), o Barão de Itararé, foi um humorista brasileiro; Groucho Marx (1890-1977), um comediante norte-americano. Além de viver na mesma época, tinham outras afinidades. Faziam graça inteligente. Não é para qualquer um.
"Entre sem bater", escreveu o Barão na entrada de seu jornal, depois de três ou quatro invasões e depredações promovidas pela polícia de Getúlio Vargas. Já Groucho, saindo de um casamento para entrar em outro, descobriu que "o matrimônio é a principal causa do divórcio".
Imaginei um diálogo entre os dois. Eles conversam um pouco, prometem se ver no dia seguinte. O Barão propõe que se encontrem numa famosa agremiação social de Nova York. Groucho recusa o convite:
– Não frequento clubes que me aceitam como sócio.
"De onde menos se espera, é que não vem nada, mesmo", pensa Torelly, contrariado. Groucho ameniza:
– Estes são meus princípios. Se não gosta deles, tenho outros.
O Barão aceita as desculpas e diz não se sentir muito preso a princípios.
– Vivo cada dia como se fosse o último; um dia, acerto.
– Poderíamos almoçar juntos, sugere Groucho. Há um bom restaurante vegetariano logo ali.
– Você é vegetariano? – quis saber o Barão.
– Não. Eu não sou vegetariano, mas como animais que são.
Enquanto caminham, o comediante confessa que queria muito morar no Brasil. "Mas, como fazer, se meu trabalho é aqui?", pergunta. Torelly o aconselha a continuar lutando:
– Nunca desista do seu sonho. Se acabou numa padaria, procure em outra!
– Pois é, responde Groucho. Eu gostaria de relaxar o dia todo em Copacabana, mas o problema de não fazer nada é você nunca saber quando acabou.
– Eu gosto muito –, diz o Barão. – Na praia, as pessoas cavam buracos. Eu cavo, tu cavas, ele cava, nós cavamos, vós cavais, eles cavam. Não é bonito, nem rima, mas é profundo.
– Inclua-me fora disso –, fala Groucho. – Estou-lhe achando um tanto egoísta.
– Não é o que eu penso –, retruca o Barão.
Groucho Marx trata de explicar:
– Egoísta é toda pessoa que pensa mais nela do que em mim.
Foi a gota d'água. Cancelam o almoço. A mudança para o Brasil fica para nunca. Torelly está decepcionado. Fala baixinho, consigo mesmo:
– O tambor faz muito barulho, mas é vazio por dentro.

(Publicado pela primeira vez no Facebook em 9/9/2015)

Nenhum comentário:

Postar um comentário