Gustavo
Maia Gomes
De acordo com
notícia recente de O Globo online, o
governo federal, por meio da Secretaria de Estudos Estratégicos, estuda novas
regras para a imigração de trabalhadores: “Brasil quer facilitar vistos para
profissionais estrangeiros altamente qualificados”. Será, mesmo, necessário? O
leitor pode fazer seu juízo. Para tanto, além de fatos, relaciono abaixo umas
poucas proposições acompanhadas de razões que demonstram serem elas, provavelmente,
verdadeiras.
·
Leva, pelo menos, dez anos
para transformar um bom concluinte do ensino médio em profissional altamente
qualificado.
São cinco anos
no curso superior e, no mínimo, mais cinco em mestrado, doutorado ou
experiência equivalente no trabalho.
·
Portanto, mesmo se
começássemos hoje a formar mais técnicos, demoraria uma década para que essas
pessoas adquirissem alta qualificação.
Como se infere,
facilmente, da proposição anterior. Se não temos este tempo, a importação de
profissionais já qualificados pode ser a única solução.
·
O crescimento sustentado da
economia brasileira exige uma crescente oferta de técnicos altamente
qualificados, especialmente, engenheiros.
Cito um estudo
do Ipea: para um crescimento real acumulado do PIB de 26,5%, entre 2003 e 2008,
a ocupação de engenheiros e profissionais afins aumentou em 51,6%. (Nascimento
et alii, ver referências, ao final.)
·
Nos últimos trinta anos, os
cursos de engenharia, no Brasil, foram desvalorizados, acarretando insuficiência
destes profissionais.
Com a retomada
do crescimento, essa situação está se revelando no mercado de trabalho: em
2011, por exemplo, o salário médio de engenheiros e profissionais afins subiu
20%. (M. Gazzoni, no Jornal da Tarde
online)
·
A insuficiência de
engenheiros não se deve a que o número de formados pelas faculdades e universidades
tenha deixado de crescer.
Nos últimos dez
anos, especialmente, ocorreu, na verdade, o oposto. Só que o crescimento não se
deu nas engenharias ou carreiras técnicas, em geral. Concentrou-se em cursos de
Direito e Ciências Sociais. Um sintoma disto é mostrado a seguir.
·
O Brasil tem mais faculdades
de Direito do que todo o resto do mundo junto.
“Temos 1.240
faculdades de direito. No restante do mundo, incluindo China, Estados Unidos,
Europa e África, existem 1.100 cursos, segundo os últimos dados a que tivemos
acesso”, disse o conselheiro do Conselho Nacional de Justiça. (Segundo Jefferson
Kravchychyn, do CNJ.)
·
Uma última pergunta, que
sugere uma conclusão.
Um país que,
único no mundo, forma sete vezes mais bachareis em Direito (e em áreas
semelhantes) do que engenheiros (e profissionais correlatos) pode sustentar o
crescimento econômico e, portanto, continuar criando empregos e ocupações
produtivas, inclusive, para advogados e juízes? (Os dados estão no site da
Unesco.)
Referências:
http://colunistas.ig.com.br/leisenegocios/2010/10/13/brasil-e-campeao-em-faculdades-de-direito/
Paulo A. Meyer M. Nascimento
et alii, “Escassez de engenheiros: realmente um risco?”. Radar, n. 6 (02/2010). Brasília, Ipea, Diretoria de Estudos e
Políticas Setoriais, Inovação, Produção e Infraestrutura. Em http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/pdf/100223_Radar6.pdf.(Pág. 5).
Marina Gazzoni, “Alta procura faz salário de
engenheiro subir 20%”. Jornal da Tarde
online (03/11/11). Em http://blogs.estadao.com.br/jt-seu-bolso/alta-procura-faz-salario-de-engenheiro-subir-20/.
United Nations,
Unesco, Institute for Statistics, em http://stats.uis.unesco.org/unesco/TableViewer/
tableView.aspx?ReportId=169
Este artigo
será publicado, simultaneamente, em http://www.blogdatametrica.com.br, http://www.econometrix.com.br e http://www.gustavomaiagomes.blogspot.com (24 jan 2012)
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