terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Quando os estrangeiros são bem-vindos

Gustavo Maia Gomes

De acordo com notícia recente de O Globo online, o governo federal, por meio da Secretaria de Estudos Estratégicos, estuda novas regras para a imigração de trabalhadores: “Brasil quer facilitar vistos para profissionais estrangeiros altamente qualificados”. Será, mesmo, necessário? O leitor pode fazer seu juízo. Para tanto, além de fatos, relaciono abaixo umas poucas proposições acompanhadas de razões que demonstram serem elas, provavelmente, verdadeiras.
·                    Leva, pelo menos, dez anos para transformar um bom concluinte do ensino médio em profissional altamente qualificado.
São cinco anos no curso superior e, no mínimo, mais cinco em mestrado, doutorado ou experiência equivalente no trabalho.
·                    Portanto, mesmo se começássemos hoje a formar mais técnicos, demoraria uma década para que essas pessoas adquirissem alta qualificação.
Como se infere, facilmente, da proposição anterior. Se não temos este tempo, a importação de profissionais já qualificados pode ser a única solução.
·                    O crescimento sustentado da economia brasileira exige uma crescente oferta de técnicos altamente qualificados, especialmente, engenheiros.
Cito um estudo do Ipea: para um crescimento real acumulado do PIB de 26,5%, entre 2003 e 2008, a ocupação de engenheiros e profissionais afins aumentou em 51,6%. (Nascimento et alii, ver referências, ao final.)
·                    Nos últimos trinta anos, os cursos de engenharia, no Brasil, foram desvalorizados, acarretando insuficiência destes profissionais.
Com a retomada do crescimento, essa situação está se revelando no mercado de trabalho: em 2011, por exemplo, o salário médio de engenheiros e profissionais afins subiu 20%. (M. Gazzoni, no Jornal da Tarde online)
·                    A insuficiência de engenheiros não se deve a que o número de formados pelas faculdades e universidades tenha deixado de crescer.
Nos últimos dez anos, especialmente, ocorreu, na verdade, o oposto. Só que o crescimento não se deu nas engenharias ou carreiras técnicas, em geral. Concentrou-se em cursos de Direito e Ciências Sociais. Um sintoma disto é mostrado a seguir.
·                    O Brasil tem mais faculdades de Direito do que todo o resto do mundo junto.
“Temos 1.240 faculdades de direito. No restante do mundo, incluindo China, Estados Unidos, Europa e África, existem 1.100 cursos, segundo os últimos dados a que tivemos acesso”, disse o conselheiro do Conselho Nacional de Justiça. (Segundo Jefferson Kravchychyn, do CNJ.)
·                    Uma última pergunta, que sugere uma conclusão.
Um país que, único no mundo, forma sete vezes mais bachareis em Direito (e em áreas semelhantes) do que engenheiros (e profissionais correlatos) pode sustentar o crescimento econômico e, portanto, continuar criando empregos e ocupações produtivas, inclusive, para advogados e juízes? (Os dados estão no site da Unesco.)

Referências:
http://colunistas.ig.com.br/leisenegocios/2010/10/13/brasil-e-campeao-em-faculdades-de-direito/
Paulo A. Meyer M. Nascimento et alii, “Escassez de engenheiros: realmente um risco?”. Radar, n. 6 (02/2010). Brasília, Ipea, Diretoria de Estudos e Políticas Setoriais, Inovação, Produção e Infraestrutura. Em http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/pdf/100223_Radar6.pdf.(Pág. 5).
Marina Gazzoni, “Alta procura faz salário de engenheiro subir 20%”. Jornal da Tarde online (03/11/11). Em http://blogs.estadao.com.br/jt-seu-bolso/alta-procura-faz-salario-de-engenheiro-subir-20/.
United Nations, Unesco, Institute for Statistics, em http://stats.uis.unesco.org/unesco/TableViewer/ tableView.aspx?ReportId=169

Este artigo será publicado, simultaneamente, em http://www.blogdatametrica.com.br, http://www.econometrix.com.br e http://www.gustavomaiagomes.blogspot.com (24 jan 2012)

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