terça-feira, 27 de outubro de 2015

Os hotéis de Manaus em 1900

Gustavo Maia Gomes

Os anos 1890-1910 foram de máxima prosperidade para a região Norte: a borracha chegou a ser o segundo mais importante produto nas exportações brasileiras perdendo, apenas, para o café. A população de Manaus passou de 38 mil para 50 mil habitantes, entre 1890 e 1900; a de Belém aumentou ainda mais, de 50 mil para 96 mil, entre os mesmos dois anos. No Brasil de 1900, somente o Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e o Recife eram maiores que Belém.
Os imponentes teatros da Paz (Belém, 1878) e Amazonas (Manaus, 1896), trouxeram ares europeus a uma terra ainda quase selvagem. No caso do Estado do Amazonas, em especial, os relatórios anuais dos governadores à Assembleia Legislativa (à época chamada “Congresso de Representantes”) documentam a enorme elevação das rendas públicas, ano após ano. O que não significava que a situação fiscal fosse sempre confortável; as despesas, com frequência, cresciam ainda mais rapidamente.
Tanto Belém quanto Manaus se conectavam com o resto do Brasil e a Europa por linhas de navios a vapor e pelo cabo telegráfico submerso no oceano Atlântico e no rio Amazonas. Os negócios em alta atraíam visitantes; os espetáculos teatrais – óperas, inclusive – traziam caravanas de artistas. Era preciso ter hotéis que os acolhessem. E os hotéis apareceram. Em 1900, a estatística oficial relacionou 30 deles, com seis mil hóspedes ao longo do ano, na capital do Amazonas.
O mais famoso hotel de Manaus na época de maior prosperidade da borracha foi o Cassina. Mas também havia, dentre os grandes, o hotel Restaurante Central, o do Porto, o da França, o Francês, o Café Central, o Dois Irmãos Unidos, o Duas Nações, o Luso Brasileiro, o Madeira, o Sal e Pimenta e o Nova Esperança. De médio porte, destacavam-se os hotéis Popular, Adamastor, Rio Negro, Vasco da Gama, dos Artistas, América, Dois Amigos, do Comércio, Internacional, Familiar, American e Souza.
Outra fonte mostra que o número de visitantes a Manaus foi muito maior que os seis mil notificados pelos hotéis. O “Mapa demonstrativo do movimento de embarcações e passageiros entrados no porto desta capital durante o ano de 1900” registrou 48.931 passageiros “entrados” na cidade, dos quais 3.713 eram estrangeiros vindos do Exterior. Onde dormia tanta gente, se os hotéis só recebiam seis mil pessoas, não sei. Possivelmente, em pousadas informais, nas casas dos comerciantes com quem vinham fazer negócios, ou nos próprios navios, durante sua estada no porto.
Podemos imaginar o que esse intenso movimento de pessoas significava na vida de uma cidade que, naquele último ano do século 19, tinha quase o mesmo número de residentes que de visitantes.
(Em 1900-04, o governador do Amazonas foi Silvério José Nery. As estatísticas citadas no texto - exceto as referentes à população das duas cidades -- foram colhidas na sua Mensagem ao Congresso de Representantes em 10 de julho de 1901.)

Publicado no Facebook, 23/10/15

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