quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Bom Português

Estou impaciente com o uso repetido de expressões que, contrabandeadas do inglês, soam mal em nossa língua. Por exemplo: um jogador de futebol sempre diz "eu dei meu melhor" quando tenta explicar, ao término das partidas, por que ganha tão bem e joga tão mal.

Tudo começou, imagino, com um saracutinguense globalizado que, jogando no Kuwait, vivia repetindo, como desculpa por perder os jogos: "ai dide mái béste, ai dide mái béste", até convencer os dirigentes do seu time que o béste dele era aquela shit mesmo, e que, portanto, deviam mandá-lo de volta para a whore que lhe tinha parido.

Jornalistas, por seu turno, adoram falar em "núcleo duro". Para eles, até a maior moleza tem um "núcleo duro". Claro, a matriz da expressão é o "hard core", usado em países de língua inglesa. Só que, mesmo ali, ninguém mais aguenta tanto "hard core". Sem pensar direito, traduzimos a expressão e passamos a falar em núcleo duro, núcleo duro... "Núcleo duro" é caroço.

Também tem a tal "zona de conforto". Essa frequenta as conversas da intelectualidade esquerdista, quando ela tenta explicar por que, considerando a grave crise do capitalismo financeiro internacional ("mais uma cerveja, garçom"), o Lulinha roubou pra caramba. Sofisticação desnecessária: antigamente, em bom português, "zona" era o bairro das prostitutas. O conforto estava implícito.

Isso dito, não espero que meus conselhos venham a ser acatados. Afinal, o governo está fazendo o seu melhor, mas o caroço da política econômica ainda vai trazer grandes problemas para quem não admite sair da zona.

(Publicado no Facebook em 7/1/2017.)

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