sexta-feira, 24 de março de 2017

Aventuras do Ventura


Luís Alípio Gomes de Barros (falecido em 1991) nasceu em Maceió, mas fez, praticamente, toda a carreira de jornalista no Rio de Janeiro. Em 1944, já mantinha a seção “Mundo dos Livros”, na célebre revista O Cruzeiro. Passou por vários jornais cariocas, até se fixar na Última Hora, desde a criação desta, em 1951, até 1984 (quando, para todos os efeitos, o matutino deixou de existir).

Na capital federal, o alagoano, filho de Laurentino Gomes de Barros e Amália Maia Gomes, tornou-se conceituado crítico de cinema e notívago de primeira grandeza. Durante anos, escreveu quase sozinho a página 9 da Última Hora, onde mantinha duas colunas, uma ao lado da outra: “Cinema” e “Ronda da Meia Noite”. Na primeira, ele se identificava pelo seu nome de batismo; na segunda, era o “Comendador Ventura de Sá”. 

Transcrevo, abaixo, uma parte da coluna “Onda & Ondas” escrita por "Marijô" e publicada no dia 9 de abril de 1954. Não tenho mais informações sobre quem teria sido "Marijô". 

PRA QUÊ! ...
[Marijô, na coluna Onda & Ondas]

O negócio foi assim: ontem, na redação, estava tudo calmo. Poucos redatores trabalhando. À nossa frente, Nelson Rodrigues terminando sua “Vida como ela é” [conhecida coluna do jornalista e teatrólogo pernambucano] matava um pai deixando dezenove filhos na orfandade, mais a esposa e a sogra. Mais adiante, o Comendador Ventura trabalhava na sua “Ronda”. E, mais longe, Otávio Malta [também pernambucano, comunista, um dos fundadores de Última Hora, com Samuel Wainer], nosso diretor secretário, batia na sua máquina portátil.

Estava mesmo uma quietude gostosa que nem ela só.

Pois foi nesse momento que, por dever de ofício, ligamos o rádio para ouvir alguém berrar assim mesmo:

-- E agora, passamos a transmitir a “Voz do Brasil”.

Nossa Senhora. Pra quê? Pra quê?

O Comendador Ventura caiu, estatelado de pernas pro ar, da cadeira onde estava sentado! ... Plén! ... E olha o barulho de vidro quebrado! E olha o pote de goma em cima do pobre! O Otávio Malta, coitado, engoliu a máquina de escrever! E o Nelson Rodrigues acabou matando os dezenove órfãos, a sogra, a esposa e toda a raça!

Cruzes! Deus que nos perdoe!

Só a gente aguentou a mão.

Raios de profissão!

(Última Hora, Rio de Janeiro, 9/4/1954, pág. 9)

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