domingo, 26 de março de 2017

Outras reflexões do Comendador Ventura: Turismo em Maceió; comes e bebes no Recife (1965)

Gustavo Maia Gomes

Não bastassem os relatos sobre sururus, pitus, ostras e camarões com que brindara seus leitores cariocas no dia 31 de janeiro de 1965, Luís Alípio de Barros, o Comendador Ventura, apenas uma semana depois, voltou a falar de Maceió – e do Recife - em sua coluna “Não morra pela boca”. Dessa vez, quanto a Maceió, enfatizando o potencial turístico da cidade.

É certo que faltam a Maceió, a capital do pequeno estado nordestino de Alagoas, bons hotéis e, por que não dizer, bons restaurantes. Porém, tirante Salvador e até certo modo Recife, talvez nenhuma outra cidade acima da capital baiana possua tantas condições para o turismo. Pois, em matéria de belezas naturais, a capital alagoana e adjacências têm tantos detalhes atraentes que seria muito longo enumerá-los todos numa simples coluna de jornal.

O velho Atlântico deu a Maceió praias admiráveis, como as de Sobral e de Pajuçara, com um mar admirável. No rumo sul, temos, ainda dentro da cidade, a praia do Pontal da Barra, belíssima. No rumo norte, as praias são sem conta: Ponta Verde, Jatiúca e, mais adiante, Riacho Doce, Ipióca, Paripueira, etc.

Como outro detalhe físico encantador e surpreendente, [tem Maceió] a grande lagoa Mundaú com Coqueiro Seco, Fernão Velho, etc. Do outro lado, chegando a outra magnífica lagoa, a Manguaba, através de lindos canais de margens cobertas de coqueiros, [há] o roteiro de Volta D’Água, Bica da Pedra, Ilha de Santa Rita (que dizem ser a maior ilha lacustre do mundo), do Cumbe, que leva a Marechal Deodoro (a antiga capital) e a Pilar.

[É o roteiro, repito, que leva à] velha e bela Manguaba, para quem os bagres (peixe gostosíssimo) são tão característicos como o sururu (marisco que é o “prato de guerra” da culinária da capital alagoana) [o são] para a lagoa Mundaú.

Quando os conheci, devo registrar, os bagres da Lagoa Manguaba não me pareceram tão gostosos assim. Mas esse é um detalhe. A avaliação de Luís Alípio, por outro lado, se revelou bastante precisa no seu ponto mais importante: Maceió tornou-se, deveras, nos últimos trinta anos, um dos maiores polos turísticos do Nordeste. E seus atrativos são aqueles mesmos destacados pelo Comendador Ventura: belezas naturais, praias, sobretudo.

Tendo também visitado o Recife na mesma viagem, Luís Alípio acrescentou algumas informações interessantes, além das que já havia contado uma semana antes:

Baixou bastante o preço da cerveja no Nordeste, com a inauguração da grande fábrica da Brahma na cidade pernambucana do Cabo, a 30 quilômetros do Recife. Daí, quando se pede uma Brahma ao garçom, diz-se assim: “Me traga uma Cabo 30”.

Continuam firmes as peixadas [do bairro litorâneo da Zona Sul] do Pina, na capital pernambucana. Principalmente, no Maxime. E o velho Leite (ali bem pertinho do Cinema Moderno) continua a ser o restaurante de tradição do Recife. (...) Assim como o sorvete do Gemba (o japonês), na Rua da Aurora, continua a ser o mais procurado, apesar de no Recife haver melhores sorvetes de frutas.

Eu, certamente, me lembro da sorveteria Gemba, que ficava próxima ao cinema São Luís. Mas, nessa mesma época, eu apreciava mais os sorvetes de frutas da Ki-Sabor (que, depois de uma briga na Justiça com a Kibon, trocou de nome para Fri-Sabor.) A Fri-Sabor existe até hoje. Recentemente, foi adquirida por gente com algum dinheiro, que resolveu dar uma modernizada na forma de apresentar e vender o produto. O sorvete atual não chega a se comparar, em qualidade, com o que o Comendador Ventura e eu conhecemos, em 1965. Mas não é ruim, tampouco.


[Os trechos em destaque são do Comendador Ventura (Luís Alípio de Barros). “As confissões de um alagoano imparcial”. Coluna "Não morra pela boca". Última Hora, RJ, 6/2/1965, pág. 13.]

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