segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

O aquecimento global de Miriam Leitão


Gustavo Maia Gomes
Recife, 17-12-2018

Em janeiro de 2018, nevou no Saara, fenômeno raríssimo naquela 
região considerada a mais quente do mundo. Os defensores
do aquecimento global induzido por ações humanas têm dito que os 
fenômenos climáticos se tornarão mais intensos, especialmente, que
haverá mais calor (e durante períodos mais longos) nas regiões quentes. 
Precisam arranjar uma boa explicação para o que a foto mostra.
























No domingo 9/12, Jair Bolsonaro anunciou Ricardo Salles como o próximo ministro do Meio Ambiente. Após ceder na proposta inicial de extinguir o Ministério, o presidente eleito cumpriu a promessa de indicar ele próprio, sem interveniências, o titular da pasta. E assim fez. Salles é advogado e foi (de 7/16 a 8/17) secretário do Meio Ambiente de São Paulo, na gestão do governador Geraldo Alckmin.

Na segunda-feira seguinte, pela manhã, o ministro indicado deu entrevista à Rádio CBN. Achei muito boas não apenas as opiniões dele, mas também a sua serenidade e segurança ao defendê-las. À noite, ele foi entrevistado no Jornal das Dez da Globo News. Da entrevista participaram Heraldo Pereira, Cristiana Lobo, Gerson Camarotti e Miriam Leitão. Os dois primeiros, menos; os dois últimos, mais, estavam visivelmente indignados com as ideias do futuro ministro -– e, nem preciso dizer, com as do presidente eleito também. Miriam Leitão, em particular, desobedeceu as regras mínimas da boa educação, ao interromper repetidamente o entrevistado, impedindo-o de concluir seu pensamento.[1]

Antigamente, chamava-se imprensa marrom (uma espécie de reduto pornográfico do jornalismo) os órgãos de divulgação que tinham mais compromisso com o escândalo do que com a verdade. Hoje, um nome precisa ser inventado para qualificar os jornais, rádios e TVs cujos repórteres e entrevistadores põem a militância política acima da obrigação de informar. A Rede Globo está entre eles.

Já fui do ramo e uma lição aprendi: o jornalista estuda o assunto (para conhecer as questões pertinentes), faz as perguntas que precisam ser feitas e deixa o entrevistado falar. Se trabalha para um jornal, ele escreve as respostas obtidas e publica a matéria, com o mínimo de adjetivos e o máximo de fidelidade ao que ouviu. Contrabandear  para o texto a sua opinião constitui procedimento condenável. Essa deve ser expressa exclusivamente em artigos assinados, ou em programas de rádio e TV que tenham essa finalidade específica e declarada.

De novo, a Globo News

Voltemos ao caso da entrevista. Os assinantes do canal, como eu, queríamos conhecer o pensamento do novo ministro sobre os assuntos de sua área. Não as ideias de uma jornalista qualquer, por maravilhosas que elas sejam. Menos ainda queríamos vê-la atropelar o entrevistado manifestando a todo momento sua indignação em perceber que Ricardo Salles pensa parecido com quem o indicou e não do jeito que agradaria a Miriam Leitão.

O clímax se deu com o “aquecimento global”, ou a “mudança climática”. Com calma, o ministro admitiu ser este um assunto ainda sujeito a visões conflitantes, alguns cientistas acreditando tratar-se de fenômeno natural, outros sustentando que ele resulta da ação humana. Foi além ao dizer que tal tema não poderia ser usado como desculpa para subordinar todos os outros, mais prementes, como a falta de saneamento nas cidades e o que fazer com os resíduos sólidos urbanos.

A jornalista não se conformou. Puxou da bolsa o argumento (para ela) definitivo e, atropelando o entrevistado, disse [literalmente]: “o IPCC chega à conclusão [com?] 99% de convicção que é ação humana. O IPCC tem cientistas do mundo inteiro, inclusive, do Brasil. Alguns dos melhores.”

Parece a última palavra, mas não é. O IPCC, sigla em inglês para Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas, é um órgão da ONU. Congrega, sim, cientistas do diversos países. Mas, não reúne todos os cientistas, longe disso. Talvez, nem os melhores, tampouco, apenas os mais bem financiados. Isso por que o alarmismo climático se tornou uma indústria, alimentada por rios de dinheiro. Os que aderem à corrente, facilmente encontram quem pague suas pesquisas. Nessas circunstâncias, a tentação do cientista apresentar apenas os resultados que corroborem as expectativas dos seus patrocinadores se torna muito forte. Portanto, concordar com o IPCC, ou, pior ainda, a ele pertencer, constitui, no máximo, um atestado de "correção" política, não científica.

Leiam o depoimento de Lennart O. Bengtsson, um dos “15 melhores cientistas da mudança climática” que, por duvidar dessa ideia, teve um artigo científico devolvido e foi intimidado por seus pares, a ponto de renegar o trabalho que havia escrito e sair da GWDF (Fundação de Política do Aquecimento Global), entidade crítica às teses do IPCC. Em suas palavras: “eu fui colocado sob tão intensa pressão de grupo (...) vinda do mundo todo, que isso se tornou insuportável para mim. (...) É uma situação que me fez lembrar do tempo [do senador americano, célebre por perseguir intelectuais, na década de 1950, Joseph] Mac Carthy.”[2]

John R. Christy, outro dos “15 melhores cientistas da mudança climática”, é Ph. D. (1987) em ciência atmosférica pela Universidade de Illinois e professor da Universidade do Alabama, em Huntsville. Ele “começou a expressar dúvidas a respeito do crescente consenso sobre mudança climática nos anos 2000. Em uma entrevista à BBC, em 2007, acusou o processo do IPCC de politização grosseira e os cientistas de sucumbirem ao ‘pensamento grupal’ e ao 'instinto de rebanho'”. Em 2009, declarou, em depoimento ao Congresso dos Estados Unidos (onde foi convidado a falar por outras 20 vezes):

“As ações que estão sendo consideradas para ‘deter o aquecimento global’ terão um impacto imperceptível sobre o clima, ao mesmo tempo em que tornam a energia mais cara e, portanto, têm um impacto negativo na economia como um todo. (...) Os modelos climáticos e os conjuntos de dados de temperatura de superfície populares exageram as mudanças na atmosfera da Terra; as mudanças reais não são alarmantes.” [3]

Existem, claro, os que acreditam no enredo e defendem as teses essenciais do IPCC. Mas, eles não são unanimidade, nem existe essa coisa de “99% de convicção” quanto à natureza antropogênica do suposto aquecimento global.

Certezas duvidosas

Embora Miriam Leitão, para defender seu pensamento “politicamente correto”, se ampare no IPCC, como se ele fora um Oráculo de Delfos, na verdade, o órgão não está acima de qualquer suspeita. Ali ocorreram episódios nada científicos. Por exemplo, “em 2009, um hacker ou informante infiltrado disponibilizou na Internet uma coleção de e-mails trocados entre os principais autores e colaboradores dos relatórios do IPCC. O escândalo resultante, denominado Climategate, expôs os esforços dos autores do IPCC em negar dados aos estudiosos independentes e tentar impedir que periódicos com respeitabilidade científica publiquem pesquisas que solapem ou questionem seu próprio trabalho. Em 2011, o hacker ou informante divulgou um segundo lote de e-mails que tornaram ainda mais claro que o processo do IPCC foi quebrado [broken, no original].”

Continuo: “esta história sórdida levou a pedidos para que o IPCC fosse extinto e que a quinta avaliação [de seus relatórios] fosse a última. Isso seria uma boa notícia, apesar de muito atrasada. [Foi por essas e outras que o] Painel Internacional Não Governamental sobre Mudanças Climáticas (NIPCC) foi criado para assumir o lugar do IPCC, oferecendo aos cientistas honestos uma alternativa para seu trabalho e aos cidadãos do mundo uma fonte genuinamente independente de pesquisa sobre esse assunto”.[4]

Além disso tudo, os “99% de certeza” da jornalista não subsistem a uma análise fria, que se estenda para além dos limites do próprio IPCC. Afonso de Vasconcelos Lopes, por exemplo, que se apresenta como geofísico com passagem pela Universidade de São Paulo (USP), relatou, provavelmente, em dezembro de 2014, que “mais de 30 mil cientistas, sendo 9 mil PhDs e 72 ganhadores do Prêmio Nobel contestaram o aquecimento global.” Ele exibe no vídeo uma fotografia do deserto do Saara, uma das mais quentes regiões do mundo, coberto de neve, o que aconteceu em janeiro deste ano (2018). E pergunta: o aquecimento não devia ser “global”?[5]

Tem mais. Ricardo Augusto Felício, meteorologista, professor da mesma USP declarou, em 31/8/2018, depois de estudar as afirmativas e a suposta base científica dos propagandistas do aquecimento global antrópico: “a gente percebeu que eles estavam fraudando. E por que eles estavam fraudando? Porque estavam impondo para a sociedade um modelo de mundo que eles estavam criando. E não era o mundo real. Então, a partir desse momento, eu passei a ser um agente combativo a essa fraude científica.”[6]

E mais. Luiz Carlos Molion possui graduação em Física pela Universidade de São Paulo (1969), é PhD em Meteorologia pela University of Wisconsin, Madison (1975), tem pós-doutorado em Hidrologia de Florestas no Institute of Hydrology, Wallingford, UK (1982), foi fellow do Wissenschftskolleg zu Berlin, Alemanha (1990) e é professor titular da UFAL (Universidade Federal de Alagoas). Ele disse, em palestra dada em São Paulo: “O homem é incapaz de alterar o clima”.

Atenção, a frase "o homem é incapaz de alterar o clima" significa a negação completa, total e insofismável da ideia de aquecimento global causado por atividades humanas. O professor foi além: “não está mais ocorrendo o aquecimento global [que existiu, ele admite, entre 1976 e 1998, mas como um fenômeno natural, não devido a interferências humanas]. Isso agora reverteu e nos próximos vinte anos nós vamos ter um resfriamento global”. A palestra foi proferida em 2012. Nela, Molion fornece dados de temperatura para mostrar que o "esfriamento global" já estava em curso.[7]


Como se não bastasse, James Lovelock (figura central na difusão do alarmismo climático, antes considerado pelos defensores do aquecimento global como o maior cientista especializado no assunto em todo o mundo) admitiu que o movimento ambientalista não presta atenção suficiente aos fatos e que ele, Lovelock, tinha estado excessivamente confiante no passado sobre a questão da elevação das temperaturas: “Falando ao jornal The Guardian [inglês] para uma entrevista antes da divulgação de um importante relatório da ONU sobre o impacto da mudança climática, Lovelock disse sobre as advertências da catástrofe climática em seu livro de 2006, Revenge of Gaia: ‘Eu estava um pouco seguro demais disso. Ninguém [sabe] o que vai acontecer’”.[8]

Uma revista de investidores deu curso, recentemente, numa matéria com o título “A impressionante fraude estatística por trás do susto do aquecimento global”, a uma informação que também desagradaria muito à jornalista da Globo News: “A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica pode ter um nome chato, mas tem um trabalho muito importante: mede a temperatura dos EUA. Infelizmente, parece ser uma prisioneira da religião do aquecimento global. Seus dados são fraudulentos.”[9]

Enfim: na melhor das hipóteses para os alarmistas, há muitas dúvidas científicas sobre se as mudanças climáticas produzidas pela ação humana existem, mesmo. Do aquecimento global de Miriam Leitão, entretanto, ninguém duvida.




NOTAS



[2] Em https://thebestschools.org/features/top-climate-change-scientists/. Sem data, mas não pode ser anterior a 2016, por outras informações contidas na mesma matéria.

[3] Em https://thebestschools.org/features/top-climate-change-scientists/. Sem data, mas não pode ser anterior a 2016, por outras informações contidas na mesma matéria.

[5] “A fraude do aquecimento global”, em https://www.youtube.com/watch?v=sn-GmANXqQQ, 3’48’’.


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