Gustavo Maia Gomes
Sabe quantos assassinatos já houve em Pernambuco neste ano? Mais
de cinco mil. Em 1932, foi zero. Zerinho da Silva. Zerinho da Silva Xavier.
Zerinho da Silva Xavier de Orleans e Bragança. O primeiro número está nos
jornais; o segundo, no Anuário Estatístico de 1935-36.
1932 foi atípico, tá bom: aconteceram 59 homicídios em 1933; 26
no ano seguinte; 53, em 1935; 32, em 1936. Combinando as informações, o número
médio anual de assassinatos em Pernambuco, em 1932-36, foi 34. Trinta e quatro.
Dá dois dias e meio, na velocidade de 2017. Guenta aí, já explico.
Sim, a população era muito menor: nos 1930, o Estado tinha 2,5
milhões de habitantes; hoje, são 8,8 milhões. Não resolve. Em 1932-36, houve
0,0136 assassinatos por cada mil habitantes; em 2017, o número é 0,5682.
Quarenta e duas vezes maior.
Se a intensidade da violência em Pernambuco tivesse sido, em
1932-36, a mesma dos dias atuais, teria havido 1.420 assassinatos em cada um
daqueles anos. Não 34. Inversamente, se fôssemos, hoje, tão pouco violentos
quanto éramos nos anos 1930, o número de homicídios no Estado, em 2017, teria
sido 120, não cinco mil.
Pernambuco à parte, o panorama do país não difere muito desse.
Causas? Em minha opinião:
(i) o afrouxamento dos freios morais típicos da sociedade rural
– patriarcal, coronelista, sim; formada por pequenas comunidades quase
independentes umas das outras, também –, que não resistiram, os laços, à vida
nas grandes cidades.
(ii) A ideologia dos coitadinhos lascadinhos excluidinhos, que
faz dos criminosos vítimas e das vítimas criminosos, condenando a Polícia,
banalizando o crime, como os nazistas banalizaram o Holocausto, diria Hannah
Arendt.
(iii) O fato social mais importante dos tempos atuais: a enorme
difusão das drogas pesadas. Difusão devida não apenas a uma legislação contraproducente,
mas também às inovações tecnológicas que têm reduzido muito o custo dos
alucinógenos.
Nos últimos cem anos, como argumentei aqui mesmo, outro dia,
melhoramos em muitas coisas. Nisso aí, não.
(Publicado no Facebook em18/12/2017)
Nenhum comentário:
Postar um comentário