quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

O Rio de Janeiro no memorável ano de 1922

Gustavo Maia Gomes
Recebi há três dias, e a li com enorme interesse, a memória familiar escrita em 2011 pela prima distante Judith, bisneta de Leonardo Kuhn (1830-1903, meu trisavô), neta de Cornelio Otto, filha de Dagoberto.
Todos, inclusive Judith – que mora no Rio de Janeiro, como o fizeram seu pai e seu avô –, conservaram o sobrenome Kuhn, trazido da Suíça para o Recife por Leonardo, em ano próximo a 1850. Um documento precioso, o da prima carioca, cuja leitura me estimulou a escrever o texto abaixo.
Em 1922, um ano para não ser esquecido, aconteceram a revolta tenentista (ou “Os 18 do Forte de Copacabana”), a Semana de Arte Moderna (em São Paulo), as fundações do Partido Comunista Brasileiro e do Centro Dom Vital (influente associação de pensadores católicos), o centenário da Independência, e a tumultuada sucessão de Epitácio Pessoa (presidente da República de 28/7/1919 a 15/11/1922) por Arthur Bernardes (15/11/1922 a 15/11/1926).
Quatro personagens dos livros “Um Trem para Branquinha” (já entregue à editora, com publicação prevista para o primeiro trimestre de 2018) e “Uma Noite em Anhumas” (ainda sendo escrito), todos parentes meus, cruzaram suas histórias com os acontecimentos de 1922, no Brasil e, especialmente, no Rio de Janeiro. Foram eles:
(1) O padre FRANCISCO RAIMUNDO DA CUNHA PEDROSA (1847-1936), vigário de Escada (PE), cuja carta (tornada pública, com ampla repercussão) ao seu amigo e presidente Epitácio Pessoa reclamando contra a interferência do governo federal na sucessão do governo de Pernambuco foi um dos fatores que deflagaram a punição do marechal Hermes da Fonseca (então presidente do Clube Militar) e a subsequente revolta tenentista de 1922.
(2) O seu irmão senador PEDRO DA CUNHA PEDROSA (1863-1947), apoiador incondicional de Epitácio, de quem era uma espécie de líder informal, e que presidiu o Senado Federal naqueles dois dias fatídicos (5 e 6/7/1922) da Revolta Tenentista, quando a maioria dos senadores preferiu ficar em casa aguardando quem sairia vitorioso do confronto, se o governo ou os tenentes sublevados, para, então, se alinhar com o lado vencedor.
(3) O engenheiro militar CORNÉLIO OTTO KUHN (1872-1946). Sua participação foi indireta: ele havia sido um dos responsáveis pela construção do Forte de Copacabana (inaugurado em 1914), em cujas dependências, ainda hoje, há uma placa com o seu nome e o dos outros quatro integrantes da comissão responsável pelas obras.
(4) O também engenheiro militar ANTONIO LEONARDO DE ARAÚJO PEDROSA (1895-1965), sobrinho de Cornélio, que participou do levante tenentista (permaneceu no Forte de Copacabana, durante a revolta), tendo sido, inclusive, preso após o malogro do movimento.
O episódio dos 18 do Forte de Copacabana marcou o clímax da revolta tenentista de 1922. Outras revoltas se seguiriam: a de 1924, em São Paulo e no Rio Grande do Sul; a Coluna Prestes de 1925-27, e, finalmente, a Revolução de 1930, que derrubou a Primeira República e levou Getúlio Vargas ao poder.
As fotos anexas dão uma ideia de como era o Rio de Janeiro (mais precisamente, Copacabana) nos anos próximos a 1922. Dos quatro personagens referidos acima, somente o padre Francisco Raimundo não residia na então Capital Federal, na época dos acontecimentos aqui focados.
(Publicado no Facebook em 1/12/2017)

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