segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Haja lixo hospitalar


Gustavo Maia Gomes
Aconteceu no porto de Suape: uma carga comprada por empresa de Santa Cruz do Capibaribe (PE), oficialmente descrita como “tecidos defeituosos”, continha, na verdade, descartes hospitalares. Começava um escândalo com devastadoras implicações para a imagem do polo de confecções do Agreste pernambucano.
Mas era só a ponta do iceberg. Nos dias seguintes, alertada pelo noticiário, gente de todo o país relatou ter comprado roupas com inscrições hospitalares – até a Santa Casa de Belo Horizonte revendia seus trapos. Lençóis da St Luke Health Care eram regularmente usados em hotéis do interior. Uma nova grife, talvez.
Descobrimos que a reutilização do lixo hospitalar não era um problema só de Pernambuco, ou de seu polo de confecções. Não que isso constitua consolo, mas o registro precisa ser feito. Para torná-lo mais enfático, transcrevo umas poucas notícias recentes sobre o mesmo tema.

OS FATOS
Até hoje ele acha que são novas, diz polícia sobre dono de lixo hospitalar. Comerciante de Ilhéus (BA) prestou depoimento na noite de domingo. Peças apreendidas tinham nomes de médicos e até manchas de sangue. (G1 Bahia, Rede Bahia de Televisão. 24/10/2011; 11:42)
Escândalo do reúso de lençóis de hospitais chega a São Paulo. Um comerciante do Brás foi acusado pelo dono da loja em Ilhéus, na Bahia, de vender tecidos com logomarcas de vários hospitais brasileiros. As autoridades suspeitam que o material seja lixo hospitalar. (http:// veja.abril.com.br/noticia/brasil/escandalo-do-reuso-de-lencois-de-hospitais-chega-a-sp. 22/10/2011)
Suposto lixo hospitalar é encontrado em forro de roupa em Fortaleza. Dona de casa (...) enviou ao Diário do Nordeste Online imagens da roupa ao avesso que mostram as logos do Governo da Bahia e da Maternidade Professor José Maria de Magalhães Neto, localizada em Salvador. (Liana Sampaio) http://diariodonordeste. globo.com/noticia.asp?codigo=328900&modulo =966 . 21/10/11)
Lençóis contaminados dos EUA são usados na indústria têxtil da Paraíba. Peças com retalhos potencialmente contaminados foram localizadas em Pernambuco, na Paraíba, na Bahia, no Ceará, no Espírito Santo e no Piauí. Uma carga saída do bairro do Brás, em São Paulo, foi interceptada ontem, com cerca de 13t de lençóis com nomes e marcas de hospitais e moteis brasileiros. (http://www.paraiba.com.br/2011/10/21/67324-lixo-hospitalar-lencois-contaminados -dos-eua-sao-usados-na-industria-textil-da-paraiba . 21/10/2011)
Santa Casa em Belo Horizonte comenta uso de lençóis hospitalares em roupas. Tecidos com inscrições de hospitais de Belo Horizonte foram usados para confeccionar bolsos de calças. Nesta quinta-feira, o grupo Santa Casa informou que existe a possibilidade do fabricante de lençóis ter repassado retalhos têxteis às confecções. Mas não quis divulgar os nomes das indústrias fornecedoras. http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2011/10/santa-casa-em-bh-comenta-uso-de-lencois-hospitalares-em-roupas.html.

“EM COMPENSAÇÃO”
Meu falecido tio Álvaro Batinga, advogado de renome em Maceió na década de sessenta, tinha uma veia satírica particularmente aguçada. Certa vez, ele contou a seguinte história.
Um menino de seus dez a doze anos pergunta ao pai o que queria dizer “em compensação”. O pai explica de várias maneiras, mas não se faz entender em nenhuma. Apela, então, para um exemplo.
– Joãosinho – diz ele –, se você chegasse aqui em casa, uma noite, e encontrasse sua mãe na cama com outro homem, o que eu seria?
O menino responde prontamente, sem disfarçar a satisfação:
– Corno.
Ao que o pai retruca:
– É, mas em compensação, você seria f. da p.
No episódio do lixo hospitalar, o polo de confecções do Agreste pernambucano bem pode ter sido o corno, mas, em compensação, contribuiu para mostrar que há muitos f. da p. por aí.
  

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