Gustavo Maia
Gomes
Aconteceu no porto de Suape: uma
carga comprada por empresa de Santa Cruz do Capibaribe (PE), oficialmente
descrita como “tecidos defeituosos”, continha, na verdade, descartes
hospitalares. Começava um escândalo com devastadoras implicações para a imagem
do polo de confecções do Agreste pernambucano.
Mas era só a ponta do iceberg.
Nos dias seguintes, alertada pelo noticiário, gente de todo o país relatou ter comprado
roupas com inscrições hospitalares – até a Santa Casa de Belo Horizonte
revendia seus trapos. Lençóis da St Luke Health Care eram regularmente usados
em hotéis do interior. Uma nova grife, talvez.
Descobrimos que a reutilização do
lixo hospitalar não era um problema só de Pernambuco, ou de seu polo de
confecções. Não que isso constitua consolo, mas o registro precisa ser feito.
Para torná-lo mais enfático, transcrevo umas poucas notícias recentes sobre o
mesmo tema.
OS FATOS
Até hoje ele acha que são novas, diz polícia sobre dono de lixo hospitalar.
Comerciante de Ilhéus (BA) prestou depoimento na noite de domingo. Peças
apreendidas tinham nomes de médicos e até manchas de sangue. (G1 Bahia, Rede
Bahia de Televisão. 24/10/2011; 11:42)
Escândalo do reúso de lençóis de hospitais
chega a São Paulo. Um
comerciante do Brás foi acusado pelo dono da loja em Ilhéus, na Bahia, de
vender tecidos com logomarcas de vários hospitais brasileiros. As autoridades
suspeitam que o material seja lixo hospitalar. (http://
veja.abril.com.br/noticia/brasil/escandalo-do-reuso-de-lencois-de-hospitais-chega-a-sp. 22/10/2011)
Suposto lixo hospitalar é encontrado em forro
de roupa em Fortaleza. Dona de casa
(...) enviou ao Diário do Nordeste Online
imagens da roupa ao avesso que mostram as logos do Governo da Bahia e da
Maternidade Professor José Maria de Magalhães Neto, localizada em Salvador. (Liana
Sampaio) http://diariodonordeste.
globo.com/noticia.asp?codigo=328900&modulo =966 . 21/10/11)
Lençóis contaminados dos EUA são usados na
indústria têxtil da Paraíba. Peças com
retalhos potencialmente contaminados foram localizadas em Pernambuco, na
Paraíba, na Bahia, no Ceará, no Espírito Santo e no Piauí. Uma carga saída do
bairro do Brás, em São Paulo, foi interceptada ontem, com cerca de 13t de
lençóis com nomes e marcas de hospitais e moteis brasileiros. (http://www.paraiba.com.br/2011/10/21/67324-lixo-hospitalar-lencois-contaminados
-dos-eua-sao-usados-na-industria-textil-da-paraiba . 21/10/2011)
Santa Casa em Belo Horizonte comenta uso de
lençóis hospitalares em roupas. Tecidos com
inscrições de hospitais de Belo Horizonte foram usados para confeccionar bolsos
de calças. Nesta quinta-feira, o grupo Santa Casa informou que existe a
possibilidade do fabricante de lençóis ter repassado retalhos têxteis às
confecções. Mas não quis divulgar os nomes das indústrias fornecedoras. http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2011/10/santa-casa-em-bh-comenta-uso-de-lencois-hospitalares-em-roupas.html.
“EM
COMPENSAÇÃO”
Meu falecido tio Álvaro Batinga,
advogado de renome em Maceió na década de sessenta, tinha uma veia satírica
particularmente aguçada. Certa vez, ele contou a seguinte história.
Um menino de seus dez a doze anos
pergunta ao pai o que queria dizer “em compensação”. O pai explica de várias
maneiras, mas não se faz entender em nenhuma. Apela, então, para um exemplo.
– Joãosinho – diz ele –, se você
chegasse aqui em casa, uma noite, e encontrasse sua mãe na cama com outro
homem, o que eu seria?
O menino responde prontamente,
sem disfarçar a satisfação:
– Corno.
Ao que o pai retruca:
– É, mas em compensação, você seria f. da p.
No episódio do lixo hospitalar, o
polo de confecções do Agreste pernambucano bem pode ter sido o corno, mas, em compensação, contribuiu para mostrar
que há muitos f. da p. por aí.
Este artigo
foi publicado, simultaneamente, em http://www.blogdatametrica.com.br,
http://www.econometrix.com.br
e http://www.gustavomaiagomes.blogspot.com
(24
out 2011)
Nenhum comentário:
Postar um comentário