Gustavo Maia Gomes
Segundo a Wikipédia,
que não me deixa mentir (embora, com certa freqüência, ela própria o faça), o Retorno de Jedi, lançado em 1983, foi o
sexto filme da série Guerra nas Estrelas.
Arrecadou milhões de dólares pelo mundo, estando entre as cem
maiores bilheterias da história. Um marco não Maciel.
– Mas o quê Suape tem a
ver com o Jedi?
– Não é com o Jedi; é
com o retorno: Suape tem a ver, e muito, com o inesperado renascimento do
otimismo econômico “desenvolvimentista” dos anos 1950 e 1960 em Pernambuco; talvez,
no Nordeste; um pouco menos, no Brasil.
No universo intelectual
daquela época, produzido, especialmente, pelos economistas, reconhecia-se a
pobreza de muitas nações, regiões ou estados – e essa era uma coisa nova. Mas
se acreditava, sobretudo, que o desenvolvimento econômico traria a eliminação
da pobreza– e essa era uma coisa novíssima.
Para todos os efeitos
práticos, desenvolvimento queria dizer industrialização: isso é transparente no
relatório do GTDN, escrito por Celso Furtado, em 1959. (A sigla tornou-se um
nome que dispensava traduções; hoje, é bom lembrar que GTDN quer dizer Grupo de
Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste. Dali saiu a ideia da Sudene,
Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste.) O relatório Furtado propunha
quatro grandes linhas de ação para a região, mas não havia dúvida de que, das
quatro, a industrialização era a mais importante. Em Pernambuco, o símbolo da
esperança desenvolvimentista era o “Complexo Industrial Portuário de Suape”,
que veio bem depois.
Assim como no Nordeste,
no Brasil e no mundo. Desde antes do GTDN, o Brasil de Vargas (especialmente no
seu último período de governo, 1951-54) e, sobretudo, o de Juscelino
Kubitscheck (1956-61) acreditou na ideia de que a industrialização traria a
riqueza de muitos e o fim da miséria de muitos mais. E, de uma forma geral, a
tese parecia estar sendo demonstrada pelos fatos: com poucas exceções, os anos
que vão do fim da Segunda Guerra (1945) até o segundo choque do petróleo (1979)
testemunharam, no Brasil, vigoroso crescimento econômico propulsionado pela
industrialização. Os indicadores sociais melhoraram muito; o emprego cresceu; a
totalidade da população se beneficiou. Uns mais, outros menos, é verdade.
SURPRESAS
Mas a História
reservava surpresas. A fase de grande crescimento da economia mundial iniciada
em 1945 produziu desequilíbrios diversos como a inflação do dólar e a aguda
dependência dos países desenvolvidos com relação ao petróleo do Oriente Médio.
Uma combinação de fatores habilmente explorada, em 1973, pelos países
exportadores que, em poucos meses, quadruplicaram o preço de venda do produto,
precipitando a recessão mundial. (Da qual o Brasil conseguiu escapar, por mais
seis anos, ao custo de uma enorme dívida externa.)
Quando o vigoroso crescimento
mundial com inflação baixa (embora crescente) foi sucedido pela estagnação com
forte subida de preços – uma estagnação que durou anos –, o mundo e o Brasil e
o Nordeste e Pernambuco perderam a fé no desenvolvimento e na industrialização
como remédios para a criação de riquezas e a superação da miséria. Nas duas
décadas perdidas (1980-2000) que se seguiram ao segundo choque do petróleo, a
economia brasileira alternou uns poucos anos de crescimento baixo com muitos
anos de crescimento nenhum. O mesmo ocorreu no Nordeste e em Pernambuco.
Neste Estado, embora o
ideal industrializante de Suape nunca tenha sido, oficialmente, esquecido, as
esperanças de criação de riquezas e de superação da miséria se voltaram, cada
vez mais, para setores econômicos como o turismo – ou os serviços, em geral – e
a fruticultura irrigada. E, ainda mais marcantemente, para programas diretos de
transferência de renda, como o Bolsa Família. Enquanto isso, a indústria
pernambucana mal conseguia se manter viva.
E
ENTÃO, DE REPENTE...
Não mais que de
repente, tudo isso mudou. Os investimentos produtivos que, na percepção
profissional e popular, estão trazendo novo fôlego e novas esperanças à
economia pernambucana são todos industriais (e localizados em Suape): a
refinaria de petróleo, o estaleiro naval, a fábrica de resinas, o pólo
petroquímico, a montadora de automóveis, a siderúrgica. Ou seja, em perspectiva
histórica, a agricultura irrigada tornou-se realidade e os serviços deram sua
contribuição ao desenvolvimento de Pernambuco. Mas só a indústria – a velha
heroína dos antigos enredos – foi capaz de sacudir o estado. Antes e agora.
É o retorno de Jedi.
(Publicado na revista Nordeste Econômico, Ano 4, n. 20, janeiro
de 2011)
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