segunda-feira, 31 de julho de 2017

Desescrevendo a História em Pernambuco (1947)

Gustavo Maia Gomes

Meu pi, Mauro Bahia de Maia Gomes, de terno branco, no centro.

Em 13 de maio de 1891, cumprindo ordem deixada por Rui Barbosa (que tinha sido, já não era, ministro), todos os livros de matrícula, controle aduaneiro e recolhimento de tributos existentes no Ministério da Fazenda que contivessem referências a transações com escravos foram queimados.
A ideia era apagar vestígios passíveis de serem utilizados em processos de indenização movidos pelos antigos proprietários de escravos. Muito bem: a intenção pode ter sido boa, mas o fato é que, com sua colocação em prática, perderam-se documentos preciosos para nossa História.
Em 15 de março de 1947, houve em Pernambuco (possivelmente, também em outros estados) episódio semelhante: a queima dos prontuários político-policiais herdados da ditadura varguista. Destruíram-se mais de 1.500 fichas com informações sobre pessoas consideradas inimigas do regime deposto em 29 de outubro de 1945.
Meu pai, Mauro Bahia de Maia Gomes, à época, Delegado de Vigilância e Costumes do Estado, testemunhou a queima (Diário de Pernambuco, 16/3/1947, pág. 3). Apenas, esteve presente, como a reportagem deixa claro. De qualquer forma, se envolveu na lamentável repetição do erro que havia sido cometido por Rui Barbosa, sessenta anos antes.
A relação completa dos nomes a que os prontuários destruídos se referiam foi publicada em sucessivas edições do Diário de Pernambuco. Adorei percorrê-la e nela descobrir nomes que me soam familiares, pela importância que já tinham ou viriam a ter na vida política e intelectual do meu Estado.
Voltarei ao assunto, aqui (nos próximos dias, mas sempre de forma breve) e no livro que ora escrevo, Uma Noite em Anhumas, no qual um dos capítulos terá Mauro Bahia de Maia Gomes como personagem principal.

(Publicado no Facebook em 13/7/2017)

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