segunda-feira, 31 de julho de 2017

Vizinhos póstumos

Gustavo Maia Gomes

Dois brasileiros antagônicos que nunca se viram enquanto vivos se tornaram vizinhos depois de mortos. Explico: às margens do Rio da Prata, na Ciudad Antigua de Montevideo, existem, a poucos metros de distância, um monumento a Irineu Evangelista de Souza (1813-89), o Barão / Visconde de Mauá, e um "Espaço Livre" com o nome de Luís Carlos Prestes (1898-1990), o mais notório dos comunistas brasileiros.
Mauá foi um grande empresário. Suas realizações incluem a primeira fundição de ferro e estaleiro no Brasil (1846); a exploração dos transportes com barcos a vapor dos rios Amazonas e Guaíba (1852); a criação do terceiro Banco do Brasil (1853); a construção da primeira ferrovia brasileira (1854); a iluminação pública a gás na cidade do Rio de Janeiro (1854); e a instalação do cabo submarino telegráfico entre a América do Sul e a Europa (1875). No Uruguai, fundou um banco e se envolveu na política, em favor dos liberais. (Wikipedia)
Luís Carlos Prestes foi um militar, engenheiro e político. Participou da revolta tenentista de 1924; liderou, em seguida, a marcha dos derrotados pelo centro do país (a chamada Coluna Miguel Costa – Prestes); exilou-se na Argentina e no Uruguai, de onde se mudou para a União Soviética. Nessa época, tornou-se comunista. Voltou para o Brasil, clandestinamente, para liderar a intentona de 1935. Foi presidente do Partido Comunista Brasileiro e jamais fez autocrítica pela longa adesão a Stálin.
Mauá construiu; Prestes tentou destruir. (Idealmente, para, em cima dos destroços, construir uma sociedade melhor.) Os dois se relacionaram, em determinados momentos de suas vidas, com o Uruguai. Montevidéu homenageou a ambos. Se tivesse de escolher, eu ficaria com Irineu Evangelista de Souza. E o leitor?

(Publicado no Facebook em 28/7/2017)

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