segunda-feira, 31 de julho de 2017

Fábula dos dois infernos

Gustavo Maia Gomes
Chovia muito quando o brasileiro barbudo chegou à porta do Céu. Tinha sido presidente, mas descobriram suas trelas e ele fora parar na cadeia. Nunca se conformou. Disse ao porteiro celestial: "fui condenado sem provas, mereço entrar".
-- Seu nome não consta da relação, senhor, mas o chefe deixou aqui um recado. Vou ver.
-- Tenho de entrar. Fui condenado sem provas.
-- Na Terra, não sei, senhor, mas, aqui no Céu, duas mentiras juntas não fazem uma verdade. Mesmo assim, tenho uma boa notícia para você.
-- O dono do sítio reconhece minha inocência? Posso ser candidato?
-- Nada disso. Ele apenas lhe deixa escolher seu destino final. Há uma vaga no inferno brasileiro e outra no inferno americano. Qual prefere?
-- Eu conheço essa piada e ela não tem graça.
-- É o que podemos fazer. Devia estar agradecido. Há trinta anos ouvimos o senhor repetir a mesma conversa. Ninguém aguenta mais. Paciência de santo também se esgota.

(Publicado no Facebook em 16/7/2017)

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