quarta-feira, 3 de outubro de 2018

CORNÉLIO VAI, JUDITH VEM

Gustavo Maia Gomes
(Recife, 15/5/2018)
Em 1889, ou ano muito próximo desse, Cornélio Otto Kuhn (1872-1946) saiu do Poço da Panela, arrabalde do Recife onde nascera, e foi morar no Rio de Janeiro. Entrou no Exército, formou-se em engenharia, casou-se por lá com Maria Luíza Rieken, e a Pernambuco nunca mais voltou, exceto em passagens muito breves.
No Recife, ficaram seus pais Leonardo Kuhn e Maria Margarida Gertner, além da irmã, também chamada Maria Margarida (1864-1947). Esta última era, então, recém-casada com Manoel Sebastião de Araújo Pedrosa. Os dois viriam a ser meus bisavôs.
Cornélio Otto e Maria Luíza tiveram três filhos, no Rio de Janeiro: Edith Luíza, Leonardo Otto e Maria Luíza. O quarto, Dagoberto Otto, temporão, nasceu na Paraíba, como era chamada a atual João Pessoa, onde seus pais moraram de 1920 a 1924 — Cornélio em missão militar. Antes disso, no Recife (e, em seguida, em Santa Rita, Paraíba, para onde se mudaram em 1899), Maria Margarida e Manoel Sebastião tiveram os filhos Manoel Sebastião II, Antônio Leonardo e Maria Alice.
Como Maria Margarida Kuhn nasceu oito anos antes do seu irmão Cornélio, foram as netas mais velhas dela (Maria do Carmo, Heloisa e Maria Stella) que se tornaram companheiras das primas cariocas Edith e Maria Luíza, nos primeiros anos 1920, quando todas elas — e, nas férias escolares, também Leonardo Otto — moraram na Paraíba, Estado. Aquela foi uma época de convívio intenso e agradável, de que Heloisa recordaria saudosa em suas memórias familiares.
Depois de 1924, entretanto, a separação entre os dois ramos de descendentes de Leonardo Kuhn se tornou quase total. Heloisa esteve no Rio de Janeiro em 1935 (possivelmente, com Maria do Carmo) e visitou os Kuhn de lá. Maria Stella (minha mãe) fez o mesmo em 1941. Felizmente, registros fotográficos dessas viagens foram conservados. Estão comigo.
Em 1946, recém casada, Heloisa visitou seus parentes cariocas. Cornélio Otto ainda era vivo, não por muito tempo. Esse pode ter sido o último encontro dos Kuhn-Pedrosa (que ficaram no Nordeste) com os Kuhn-Rieken (que nasceram e permaneceram no Rio de Janeiro). Aconteceu há 72 anos.
O último encontro, ressalvo, até ontem à noite. Pois se, em 1889, Cornélio Otto Kuhn foi do Recife para o Rio de Janeiro, em 2018 — cento e vinte e nove anos depois! — sua neta Judith Kuhn, filha de Dagoberto Otto, fez o percurso inverso e veio, como se fora a la recherche du temps perdu, do Rio para o Recife. Trazendo a bela Isa, quero dizer, a Isabella, sua filha.
Não que tenham vindo, as duas, Judith e Isabella, carregando seu matulão, ou seja, de mala e cuia, de mudança. Não importa: vieram para ver os parentes que a geografia havia separado sem apagar os laços afetivos que, nalgum recôndito, continuaram a existir. E deram ensejo ao reencontro de quem, a rigor, jamais havia se encontrado antes. Que bom!
Tivemos, assim, um jantar agradável no restaurante Entre Amigos de Boa Viagem (Zona Sul). Comida excelente. De Maceió, vieram Marcus Antonio Pedrosa Ferreira e seu irmão Alfredo, filhos de Maria do Carmo. Do Recife, estivemos presentes Lourdes Barbosa (minha mulher), Gabriela (filha) e eu.
Foi, com certeza, uma noite digna de entrar na nossa história, a história dos descendentes de Leonardo Kuhn (suíço que, em 1850, trocou Zurique pelo Recife) e de Maria Margarida Gertner, filha de alemães nascida no Brasil.

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