quarta-feira, 3 de outubro de 2018

PROPOSTAS ECONÔMICAS OU PIADAS DE MAU GOSTO?

Gustavo Maia Gomes
21-9-2018
Algumas das propostas econômicas dos principais candidatos a presidente (tais como resumidas no pernambucano Jornal do Commercio de hoje) são sensatas; outras parecem tiradas da sabedoria de Iolanda, aquela que estocava ventos e nos trouxe tempestades.
Haddad, no resumo citado, quer: (1) revogar a reforma trabalhista; (2) revogar o teto do gasto público; (3) realizar uma reforma tributária com incidência direta sobre lucros e dividendos e aumentar taxas para "spreads" maiores; (4) suspender a venda de ativos da Petrobras; (5) criar uma mesa de negociações para a reforma da Previdência.
A proposta (5) é uma maneira de dizer que não haverá reforma da Previdência, apenas conversas sobre a reforma da Previdência. As outras quatro constituem a plataforma do atraso, no melhor dos casos, ou do retrocesso, nos outros. Mas a joia da coroa é a (4) suspender a venda de ativos da Petrobras. Faz sentido: se vendê tudo, o que vai sobrá prus cumpanheiro?
Ciro Gomes, além de revogar o teto dos gastos públicos, refinanciar as dívidas de quem esteja no SPC, e investir 5% do PIB em infraestrutura (a soma disso tudo significando uma tremenda expansão fiscal) também quer “impor ao Banco Central, além da meta da inflação, a meta da taxa de desemprego”. Ele deve crer que se devia ter tentado apagar o incêndio do Museu Nacional usando gasolina, em vez de água. Se os bombeiros não o fizeram, no Rio; o Banco Central de Ciro o fará, no Brasil todo.
Bolsonaro quer privatizar estatais e usar os recursos das privatizações para reduzir em 20% a dívida pública federal. Também quer “quebrar o monopólio” da Petrobras, o que significa que não pretende privatizá-la. O pensamento militar no Brasil, a que o candidato presta continência, sempre foi estatizante. Como é que isso se conciliaria com as ideias do pretenso guru de Bolsonaro, um economista radicalmente “liberal”, eu não sei. Paulo Guedes, o Breve, tende a ser o oposto daquele auxiliar amanteigado de Dilma, que ficou no Ministério muito mais tempo do que era necessário para afundar completamente a economia brasileira.
A propósito: a ideia de usar os recursos da privatização para reduzir a dívida pública não é ruim, em tese. Já foi usada antes, como justificativa para a venda das estatais. Mas como, no modelo brasileiro, quem compra as estatais é o próprio Estado (via BNDES ou fundos de pensão das empresas públicas, controlados pelo governo), a ideia está fadada a novo fracasso. A menos que haja uma mudança drástica no modelo, o que não me parece estar contemplada no discurso.
As propostas de Alckmin são as melhores: tirar os temas econômicos da Constituição; reduzir o imposto de renda das empresas (para aumentar o investimento privado); manter o teto de gastos, enquanto (imagino eu, isso não está dito) não se completa o ajuste; promover a reforma da Previdência. (Também, fazer uma reforma tributária descomplicadora, o que a matéria do JC não menciona.)
Infelizmente, como sempre acontece com o PSDB, o discurso de Alckmin se mantém respeitosamente dentro de limites fixados pelo policiamento petista. Por exemplo, quando diz ser a favor de privatizar as estatais, “com exceção da Petrobras e do Banco do Brasil”.
O que há de tão especial com a Petrobras e o Banco do Brasil, além de serem elas duas entidades cheias de dinheiro facilmente apropriável por interesses particulares ali instalados por quem estiver no poder? E de serem muito dedicadas a beneficiar seus próprios empregados? É hora de jogar esses dogmas na lata de lixo da História.
Quero dizer: eu gostaria que tivesse chegado a hora de jogar esses entulhos populistas na lata de lixo da História, mas não estou certo que essa hora chegou. Nem eu, nem Alckmin, para não falar dos outros.

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