quarta-feira, 28 de junho de 2017

Pontos de vista e vírgulas a perder de vista

Meus amigos virtuais e reais que foram irrestritamente contra o descalabro dos governos petistas (e, sobretudo, nos estertores destes, a favor do impeachment da mulher sapiens) agora se dividem em relação ao salvamento de Michel Temer pelo Tribunal das Sentenças Encomendadas.
Diante disso, acho que pode interessar a alguns deles uma exposição mais detalhada de como vejo esse acontecimento recente da nossa esquisitíssima política. Não que me ache capaz de mudar pontos de vista, certamente, sólidos. Apenas aspiro ser mais bem entendido pelos poucos que se disponham a ler o que segue.
Começo fazendo uma preliminar. Minha opinião profissional como economista é que, no presente momento, as consequências de uma renúncia ou afastamento do Sr. Temer para a estabilidade e/ou lenta retomada do crescimento econômico brasileiro seriam, exatamente, NENHUMA.
O "fiador da estabilidade", na atual conjuntura, não é o presidente, incapaz de fiar sequer a si próprio, mas a convicção bastante generalizada e imposta pelo medo (ao menos, entre as pessoas que poderiam assumir o comando do governo, na nova pinguela pós-Temer) de que, se nenhum ajustamento fiscal for feito (ou, no mínimo, crivelmente prometido), teremos rapidamente a volta da inflação e o aumento do desemprego.
Se eu estiver certo nesta preliminar (como acho que estou), a alegação de que salvar Temer (e, por consequência óbvia, INOCENTAR Dilma e o PT) equivale a salvar a estabilidade cai por terra. Passo, portanto, à parte mais importante do argumento.
O Sr. Michel Temer e os quarenta ladrões que ele escolheu para ministros não compõem uma nova organização criminosa. Eles são, apenas, uma dissidência (membros subordinados, vá lá) da mesma quadrilha que nos governa há quatorze anos e meio. Infelizmente, só existia uma rota constitucional para demitir a "presidenta" que levara o país à bancarrota. Essa via implicava na posse do vice-presidente. Não tínhamos escolha. E, cá pra nós, o Brasil melhorou um bocado depois que a troca foi feita.
O respeito às leis e, especialmente, à Constituição, mantido durante todo o processo do impeachment (descontada a falcatrua cometida no apagar das luzes pela dupla Renan-Lewandowski a favor da desastrada senhora) forneceu o respaldo moral a nós que fomos às ruas pedir a derrubada de Dilma Rousseff e seus asseclas petistas.
Não estávamos lutando para colocar Temer no poder, mas para tirar do poder uma pessoa que havia cometido crimes. Não tínhamos bandidos de estimação, como os tem o PT. (Vejam como reagimos às devastadoras recentes denúncias contra Aécio Neves.) Queríamos, sim, lutar contra a incompetência específica e a roubalheira generalizada características daquela mulher e do seu bando de marginais.
Se lutamos contra isso (e vencemos!) recorrendo, estritamente, aos meios legais disponíveis, como vamos, agora, defender a vergonhosa lambança que este governo montou no TSE? Como podemos aceitar que a montanha de evidências de que a chapa Dilma-Temer fraudou as eleições seja ignorada? Não foi exatamente contra isso (a desconsideração das evidências, ofuscadas pelo discurso de que o impeachment era golpe) que tão vigorosamente protestamos?
Em especial, como podemos acreditar na honestidade de um juiz – cujo voto e condução do processo foram decisivos para a absolvição da chapa liderada por Dilma Rousseff – se ele, escancaradamente, muda de opinião segundo suas conveniências momentâneas? Como podemos defender um desfecho processual conseguido sabe-se lá como, mas conspicuamente fraudulento?
Tô fora.

(Publicado no Facebook, 11/6/2017)

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