sexta-feira, 9 de junho de 2017

Na dúvida, duvide

Gustavo Maia Gomes

Esta é uma história de ficção. Qualquer semelhança com fatos, pessoas e instituições reais é mera coincidência.
Pressionado pelas investigações criminais já em curso, o comprador de reputações e marca de uísque Joio Brasil convoca alguns sócios-sinistros para uma reunião noturna secreta nos subterrâneos do clube Sentinelas Todos Fomos.
Surpreendentemente (para mim e você; não para JB e os sinistros), a reunião se realiza, como havia determinado o comprador de reputações. Na presença dos convocados, o homem liga um pequeno aparelho que reproduz conversas devastadoras entre ele próprio e os sinistros presentes.
Há um princípio de pânico. Os sinistros perguntam a JB o que ele quer para não divulgar aquela gravação. E aí o comprador de reputações anuncia que tem muitas outras coisas gravadas, envolvendo gente graúda. Até mesmo o presidente da Coisa Pública e um sonhador muito conhecido.
– Mas, o que você quer para não divulgar a "nossa" conversa? – insiste um dos sinistros. – Dinheiro? – JB abre um largo sorriso e põe os pingos nos ii: – Meu senhor, não seja ridículo. Dinheiro, para mim, só acima de um bilhão. Se eu quisesse dinheiro, não estaria aqui, mas naquele banco camarada, onde obtenho tudo o que quero, sem sequer ficar devendo.
– Se não é dinheiro, o que será? – insiste o mesmo sinistro, como você já percebeu, um débil mental.
– Quero que o Sentinelas Todos Fomos me absolva previamente de todos os meus pequenos deslizes, sem que eu seja, sequer, levado a julgamento – esclarece JB.
– Isso é impossível. O que o senhor acha que nós somos? – interveio um outro sócio-sinistro do Sentinelas. JB nem pestanejou antes de responder: – O que os senhores são, eu sei. Vim aqui apenas para propor um acordo. Até hoje, eu pagava e vocês recebiam. Agora quero inverter as coisas. Vocês me absolvem e eu não publico nossas conversas.
Nunca antes na história do Sentinelas Todos Fomos se tinha produzido tamanha comoção. Houve um alívio, porisso, quando um sinistro encontrou a forma de resolver aquilo, em benefício do país. Ele disse: – Mostre as outras fitas. Se forem tão boas como está dizendo, entregue elas para nós...
Todos perceberam aonde o sinistro queria chegar: dê-nos a gravação e nós lhe daremos uma depilação premiada Brastemp. Liberdade total, nem tornozeleira eletrônica, nem nada.
Nisso, alguém sentiu falta do encontrador. Sem ele, nenhum acordo teria validade. Foram buscá-lo. Em cinco minutos, o homem apareceu. JB aproveitou para fazer todos ouvirem a reprodução gravada de um interessante diálogo que ele e o encontrador tinham tido três dias antes.
Foi o bastante para convencer a todos de que, em sendo para o bem-estar do povo e a felicidade geral da Nação, que se divulgassem as conversas do presidente e do sonhador o mais rápido possível.
Afinal, JB já tinha reservado lugares no próximo voo Brasília-Nova York, aquela cidade do Maranhão. Para ele e sua namorada Joelma. Sem tornozeleiras, faz favor.

(Publicado no Facebook, 20/5/2017)

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