quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

ARRUAR NA MANGABEIRA DE CIMA

Gustavo Maia Gomes
Recife, 29-12-2018
Publicado originalmente há setenta anos, o livro do escritor pernambucano Mario Sette (1886-1950) “Arruar: História pitoresca do Recife antigo” (Rio de Janeiro, CEB, 1948) ainda hoje se lê com proveito e prazer. É o que tenho feito, nestes últimos dias de 2018.
Considere-se o trecho abaixo:
“Quem não se identifica de pronto com as raízes populares de denominações claríssimas como Caminho Novo, Porto da Madeira, Ponte Velha, Ilha do Retiro, Água Fria, Espinheiro, Fora de Portas? Meditemos nesses nomes, e cada um deles será um pequeno capítulo do romance do Recife.” (Pág. 12)
Desses, apenas dois caíram em desuso, ou foram trocados. O “Caminho Novo” é a atual e importante Avenida Conde da Boa Vista, na zona central e deteriorada da cidade; “Fora de Portas” ficava onde hoje está a muito pobre Comunidade do Pilar, próximo ao Forte do Brum, bairro do Recife. Seu nome (li isso em algum lugar, mas posso estar errado) deriva da fábrica de biscoitos Pilar, que ainda existe nesse local.
Mario Sette continua:
“Que dizer, por exemplo, de Mangabeira de Cima, a contrastar com a Mangabeira de Baixo, ali na Estrada do Arraial, que por si mesmo já constitui um cenário histórico? As duas árvores, no caminho há pouco rompido, eram duas balizas dos transeuntes. Mangabeira, a de baixo, Mangabeira, a do alto da ladeira. Orientavam os que iam ali, e quando o trem suburbano substituiu a diligência do Cláudio, deram nome às respectivas estações que nós ainda frequentamos.” (Pág. 12)
Na Mangabeira de Cima, mais especificamente na rua que se chamou Moura Esteves e, depois, Olímpio Tavares, vivi grande parte de minha infância e juventude. Na época, eu não conhecia esses nomes antigos. Que morava colado ao histórico Arraial Velho, de onde Matias de Albuquerque comandou a resistência aos invasores holandeses, entre 1630 e 1635, entretanto, eu sabia muito bem.
Dona Inês de Souza, minha professora primária, cuja casa-escola ficava ainda mais perto do Arraial Velho, não me deixava esquecer.

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