sexta-feira, 16 de agosto de 2019

IGARASSU

Gustavo Maia Gomes
Fomos, ontem, Lourdes e eu, a Igarassu (Litoral Norte, PE) admirar mais uma vez a beleza do seu acervo arquitetônico. Anotamos o estado de conservação (em geral, bom) dos prédios históricos. Também louvável é a limpeza das ruas. Digo isso com satisfação, tantos são os exemplos negativos que temos visto por aí.
Por outro lado, tivemos que lidar com potenciais ameaças à segurança. Num caso, um sujeito com cara de mau dirigiu-se para onde havíamos estacionado o nosso carro. (Achamos prudente tirar o veículo dali.) Mais à frente, lemos no muro de uma casa que o seu proprietário já tinha sido assaltado cinco vezes.
Somando tudo, surge um paradoxo. A despeito da história multissecular, do acervo arquitetônico invejável, da localização tão próxima ao Recife, Igarassu não recebe um número compatível de visitantes. Para ser sincero, Lourdes e eu não vimos um só turista transitando pelo centro histórico, ontem. E era um domingo ensolarado.
Igarassu “é considerado o primeiro núcleo de povoamento do país” (IBGE). Foi onde Duarte Coelho (1485-1554), escolhido dono do lugar pelo Rei João III (1502-57), de Portugal, iniciou seus trabalhos de colonizador, em 1535.

A área era habitada por índios caetés que, nem um pouco satisfeitos com a chegada dos europeus, opuseram-lhes forte resistência. Foram vencidos. Em 1537, Duarte Coelho fundou a Vila de Igarassu, cujo nome significa “canoa grande” (IBGE).
Fundar uma vila significava erigir o prédio da cadeia pública e construir conventos e igrejas. Uma, duas, três, quatro, cinco... quantas igrejas suportassem os parcos orçamentos locais, aplicados quase exclusivamente nesses projetos.
Nos seus 482 anos de existência, Igarassu viveu episódios eletrizantes. Seus moradores foram, em alguns casos, perseguidos pelos holandeses, que puseram fogo na então Câmara e Cadeia (1632), hoje Sobrado do Imperador. Seu convento franciscano de Santo Antônio abrigou os líderes da Revolução Praieira (1848). Sua igreja matriz, dedicada aos santos Cosme e Damião, carrega a fama (subscrita pelo IBGE, embora alguns contestem isso) de ser a mais antiga do Brasil.
Todos esses prédios ainda estão lá, para o desfrute de quem valoriza a História e a Arquitetura. E, no entanto, os mesmos pernambucanos que se atropelam nas filas do Consulado Americano mendigando permissão para uma viagem demorada, cara e insensata à Disneyworld, muitas vezes, nem sequer sabem que Igarassu existe, embora a cidade fique meros 30 km distante do Recife.

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