sexta-feira, 16 de agosto de 2019

O LIVRO MAIS ANTIGO

Gustavo Maia Gomes
Mantenho em minha casa com Lourdes Barbosa cerca de três mil livros. Tirando os que são, originalmente, dela, os outros devem corresponder à metade dos que comprei ou ganhei, ao longo da vida. Os demais se perderam, vitimados por cupins, excesso de umidade, ou acidentes vários ocorridos durante ausências prolongadas do Recife.
Também houve os livros que joguei fora por serem demasiadamente ruins, mas esses foram poucos. Com a recente mudança do nosso escritório para o primeiro andar da mesma casa, rearranjamos os volumes nas novas estantes, um trabalho difícil, demorado e ainda inconcluso.
De todo modo, agora posso contemplar sem esforço obras que li na juventude. A mais antiga (das que se conservaram) é de 1958: “Maravilhas da Ficção Científica”. Ganhei-a de meus pais, ao visitar com eles uma feira de livros a céu aberto que acontecia nas calçadas da Rua da Aurora, em frente ao Cine São Luís, zona central do Recife.
Sessenta anos passados, algumas das “Maravilhas” se prestam a exclamações. “A primeira hora na Lua”, privilégio de uma tripulação de astronautas soviéticos, iria acontecer em 27 de novembro de 1974. Na verdade, veio a se dar em 1969 e foi vivida por norte-americanos.
Dentre os autores dos contos reunidos no livro mais antigo de minha biblioteca, havia os que já eram mortos e famosos (caso de H. G. Wells, 1866-1946); outros viriam a se tornar celebridades (por exemplo, Isaac Asimov, 1920-92; Robert Heinlein, 1907-88; e Ray Bradbury, 1920-2012).
Lembro-me, especialmente, dos contos “Arena” (Frederic Brown, 1906-76) e de “O pequeno robô perdido” (Isaac Asimov). O primeiro se passa num deserto, e descreve a luta entre um homem e uma coisa dotada de poder mental avassalador.
O homem percebe que aniquilaria o seu oponente se pudesse chegar até ele, mas há um muro invisível entre os dois, que somente dá passagem a objetos inanimados. A coisa arremessa pedras a todo momento, ferindo o inimigo do lado de cá.
O conto termina com a descoberta pelo narrador e herói humano de que seres vivos, desde que inconscientes, também têm trânsito livre entre um lado e outro da arena. De modo que o homem se encosta no muro e aplica em sua própria cabeça um golpe de pedra que o faz desmaiar.
Quando acorda, está sendo contemplado pela coisa, mas tem tempo suficiente para desfechar-lhe um golpe destruidor, após o que o muro (possivelmente, uma criação mental do inimigo) desaparece. O homem havia vencido.
Recontei a história acima baseado apenas em minhas memórias de sessenta anos atrás. Devo ter cometido imprecisões, portanto. (Sobre o “

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