sexta-feira, 16 de agosto de 2019

PROXIMIDADE LONGÍNQUA

Gustavo Maia Gomes
Alagoanos, ambos. Conhecidos, sim; amigos, não. Nem poderiam. Graciliano Ramos (1892-1953) odiava a classe à qual Benon Maia Gomes (1901-48), filho de usineiro, dono de terras, pertencia ("Memórias do Cárcere", v. 1, pág. 32).
Duplamente primo de meu pai, Benon, além de agricultor e sócio da Usina Campo Verde, foi engenheiro agrônomo, chefe do "Serviço do Algodão" em Alagoas, depois renomeado “Serviço das Plantas Têxteis”.
Graciliano, até 1933, escrevia romances secretos e relatórios públicos. Para viver, foi comerciante, prefeito de Palmeira dos Índios, diretor da Imprensa Oficial e da Instrução Pública de Alagoas. Isso tudo antes de se mudar para o Rio de Janeiro.
Descobri evidências – duas delas, na imprensa; a terceira, nas memórias do escritor – de que Benon e Graciliano se encontraram (ou estiveram programados para se encontrar), em Maceió, algumas vezes. Dentre elas:
(1) Em setembro de 1931, na despedida ao poeta Aloísio Branco, que ia morar no Rio de Janeiro. Não sei se o jantar (“de caráter íntimo”), efetivamente, aconteceu, mas, um dia antes, os organizadores contavam com as presenças de Jorge de Lima, José Lins do Rego, Aurélio Buarque de Holanda, Rui Palmeira e Valdemar Cavalcanti, além de Graciliano e Benon e outros.
(2) Em janeiro de 1935, quando os dois foram nomeados pelo interventor federal em Alagoas para, em comissão, “estudarem a aplicação das conclusões [do Congresso de Ensino Regional, realizado na Bahia] na organização do ensino em Alagoas”. Tampouco posso garantir que a comissão tenha mesmo chegado a se reunir, embora isso seja provável.
(3) Em março de 1936, quando Graciliano, preso por razões políticas, era conduzido no trem da Great Western de Maceió para o Recife. Este encontro, registrado em três passagens das “Memórias do Cárcere” (págs. 31-32, 61 e 67-68, vol. 1) não foi amistoso.
Ao relatar o desagradável episódio, Graciliano recorda que Benon o visitava na Imprensa Oficial, onde ele (o escritor) "bocejava a olhar, sob um telheiro próximo, um homem que enchia dornas e uma mulher que lavava garrafas" (pág. 31).
Os textos e respectivas legendas reproduzidos em anexo contam um pouco mais dessas histórias.
Referência: Graciliano Ramos, “Memórias do Cárcere”, Rio de Janeiro, Livraria Martins Fontes, 4ª. Edição, 2 vols. 1960.

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