sexta-feira, 16 de agosto de 2019

DORIS DAY NO AMAPÁ

Gustavo Maia Gomes
Em meados dos anos setenta, morando em São Paulo, eu trabalhava na Copersucar, a cooperativa dos usineiros. A empresa chegou a ser a maior do Brasil, em faturamento, entre 1972 e 1974.
Formávamos um time maravilhoso, de gente competente e amiga como Julio Maria Borges, Norberto Antônio Batista, Akio Tanaka, José Santana, Diogo Galhardo, Reinaldo Alcântara, Roberto Moura Campos e outros, comandados por Marcio Diniz Gotlib. (Claudio Peçanha entrou pouco depois.)
O que me fez lembrar disso agora? A morte de Doris Day.
Explico.
Um dia, fomos surpreendidos pela presença de Fernando (Coutinho, se bem me lembro) entre nós. Tinha sido advogado da Icomi, empresa mineradora de manganês no Amapá. Acho que foi contratado para agradar algum poderoso em Brasília. Na Assessoria Econômica, não teria muito a fazer. Ou nada. Nem estava ali para isso. Grande contador de histórias, com frequência, tomava horas de nosso tempo relembrando casos como este de Doris Day no Amapá.
Certa manhã, estando na sua sala da Icomi, ele foi chamado com urgência ao cartório da cidadezinha próxima, pois um trabalhador da mineradora estava no local, perturbadíssimo, ameaçando agredir o homem que o atendera.
— Qual é o problema? — falou Fernando, ao chegar.
— Pergunte ao seu funcionário — respondeu o tabelião.
Foi o que fez. O operário humilde, semianalfabeto, logo reconhecido pelo advogado, parecia outra pessoa de tão irado:
— Eu quero registrar minha filha como Doris Day e eles não deixam.
Absurdo, pensou Fernando: se ele quer que a filha se chame Doris Day, como pode o cartório impedi-lo? E foi ter com o tabelião, de quem ouviu uma explicação simples:
— O homem já tem uma filha Doris Day registrada aqui mesmo.
Fernando retornou, então, ao pai indignado, na esperança de convencê-lo a escolher outro nome para a menina.
— Mentira dele, dotô, minha primeira filha é Doris Dái. Esta, eu quero que seja Doris Dei!

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