sexta-feira, 16 de agosto de 2019

O TANGO

Gustavo Maia Gomes
Podemos entender a Argentina?, pergunta Helga Hoffmann. Não sei, mas vou tentar. É o tango. A dança. Belíssima. Irracional, porém. Nada de dois pra lá, dois pra cá. Trinta e sete para frente, dezoito para um lado, quarenta e três para trás. E, da próxima vez, será diferente.
Num dado momento, dama e cavalheiro caminham ombro a ombro, como se tivessem o mesmo alvo. Então, o homem dá uma guinada, desmanchando tudo. A mulher perde o equilíbrio. Vai cair. É amparada pelo parceiro. Ela desce, desfalecida. Ele a ergue, triunfante.
O casal se desfaz. Passearam muito, sem chegar a lugar nenhum. Nem se sabe se estavam coreografando a beleza, o amor, o ódio, ou a vacuidade. Lá fora, há incêndios, inundações, atentados. Com o baile rolando, só um alguém vai à rua lançar gasolina no fogo, água na enchente e retratos de Guevara sobre os corpos partidos.
No salão, novos pares se formam. É o tango, outra vez, ainda e sempre. Vinte e cinco para frente, setenta e um para um lado, trinta e três para trás. Da próxima vez, será diferente. Portanto, será igual.

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