terça-feira, 2 de abril de 2019

CARTA A RIVALDO PAIVA, ESCRITOR

Gustavo Maia Gomes
Li “Saudades de 60: O Recife ao sabor de um tempo” (2002). Para todos os efeitos, Rivaldo Paiva, somos da mesma cidade, da mesma idade, da mesma saudade. Eu deveria gostar do livro. E gostei.
Não só por causa disso. Afinal, deleite-me com Luiz Edmundo (“O Rio de Janeiro de meu tempo”), carioca, e estou apreciando as memórias de Pedro Nava (“Baú de Ossos”, “Balão Cativo” e mais quatro volumes), mineiro.
E aí me deparo com uma foto de Nara Leão bem no comecinho do texto. Covardia, Rivaldo: Narinha foi uma de minhas paixões sessentistas. Covardia botar uma foto dela no primeiro capítulo. Elis Regina canta pouco adiante, Mauro Ramos ergue a taça Jules Rimet, o Repórter Esso é mencionado nalgum outro ponto. As lâminas Gilette; a loção Aqua Velva, o creme dental Kolynos... Esse era o nosso mundo, mas, nada se compara a Narinha Leão.
Também “vi o Recife das pontes nas filas do Cine São Luiz em plenas domingueiras de regatas pelo Capibaribe da rua da Aurora, de paletó e gravata, atento aos lanches da Arcádia e aos sorvetes com saladas de frutas do Gemba”. Como você, eu passava pela Avenida Guararapes (hoje, um lixo), parando no Café Sertã, no bar Savoy, nas bancas do Gasolina ou Patrocínio.
Conheci jornalistas boêmios citados em seu livro (jornalista eu era; boêmio, não; hoje, me arrependo): Ronildo Maia Leite, Wladimir Calheiros, Wilson Soares, Ernani Régis, Garibaldi Sá, Anchieta Hélcias. E outros, nem todos amantes das noites e bares: Aldo Paes Barreto, Selênio Siqueira, Ricardo Carvalho, Paulo Barreto, Gilberto "Betoca" Prado, Ivanildo Sampaio, Mauro e Ricardo Correa, Divane Carvalho, Maria das Graças Lima e Silva, Jeová Franklin, Antônio Brito, Geraldo Seabra, Marcílio Viana Luna, “seu” Netto, Jodeval Duarte...
Em Boa Viagem, também passei em frente à Casa Navio, um monumento ao mau gosto que, entretanto, devia ter sido conservado; bebi no Veleiro, no Castelinho; jantei no Barril, no Costa Brava. No Pina, pouco mais ao Norte, havia o cano de esgoto, (emissor submarino, se preferir), o restaurante Maxime, a sorveteria Daqui, rival da Xaxá, que ficava na Boa Vista.
Não frequentei o Colégio Nóbrega, mas, certamente, nos encontramos muitas vezes nos Jogos Colegiais, aquele tempo maravilhoso em que as alunas em flor, lindas como elas só, se concentravam nas quadras e nas torcidas. De algumas, você fala, de outras, não: Brunilde Trajano, Martha Pontual, Solange Collier, Chianca, uma certa Conceição, do Colégio Eucarístico. E as Fátimas, Cristinas, Reginas, Terezas, Veras? Sem trocadilhos, como eram abundantes as meninas bonitas.
Como você, também “dancei no Clube Internacional em inesquecíveis Encontro de Brotos, das seis às dez horas de domingos, marotos noturnos, ao som vibrante dos conjuntos de Mario Griz, Fernando Borges (...)”, mas me livrei, por morar em lugar alto, do “16 de junho de 1966, a maior cheia que atormentou o Recife, [inundando] ruas e praças, (...) quase cobrindo nossas pontes” (pág. 35).
Meu espaço acabou, caro amigo virtual Rivaldo Paiva. Seu livro é uma delícia. Irei relê-lo muitas vezes. Obrigado. 

(Publicado no Facebook, 10/3/2019)

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