terça-feira, 2 de abril de 2019

PORTINGLÊS


Gustavo Maia Gomes
Business, DVD-ROM, bullying, fake news, Wi-Fi, digital influencer, e-mail, coaching, personal trainer... São palavras, siglas e expressões inglesas que já estão e continuarão a estar conosco, ainda mais agora que nem sequer visto de entrada precisam ter. Exagero? Talvez, sim; talvez, não.
Não começou assim. Antes, importávamos francesas. Sessões de cinema eram matinées ou soirées; a vida noturna acontecia nas boites; os homens usavam pince-nez (nunca vi uma foto de mulher com esses precursores dos óculos modernos); havia os chez-moi, chez-vous, os en avant tous e en derrière das festas juninas.
Um dia, trocamos as paroles pelas words. Isso começou ainda no século XIX com as railways, as Tramways & Power companies e continuou com os country clubs, os derbys e, sobretudo, o foot-ball. A boa notícia é que, neste último caso, a terminologia associada ao jogo terminou sendo toda traduzida ou adaptada para grafias portuguesas.
Goal-keeper virou goleiro; player, jogador; half-back, zagueiro; off-side, impedimento; corner, escanteio; foul, falta; hand, toque de mão; match, partida ou jogo; scratch, escrete; team, time. Penalty continuou a ser penalty; quem era crack, tornou-se craque. Não mais foot-ball; futebol.
Hoje, vivemos a era dos tablets, smart phones, Internet, Business-to-Business, backup, banner, bit, bite, Bitcoin, chat, cookie, download, e-commerce, firewall, hacker, home-page, html, http, https, login, logoff, logon, malware, online, offline, password, scanner, site, software, hardware, spam, upload, USB, World Wide Web…
Amanhã, talvez, tenhamos tudo isso em português, mas -- ilusório consolo -- haverá outras palavras de pronúncia difícil e grafia impossível. Que tal estas: 不要紧,猫的颜色,只要它抓住老鼠 ? (Segundo o Google, “não importa a cor do gato, desde que ele cace os ratos”, em mandarim.)
(Publicado no Facebook, 21-3-2019)

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