terça-feira, 2 de abril de 2019

SACOLAS DA VIRTUDE

Gustavo Maia Gomes
Os economistas franco-brasileiros (ou braso-franceses?) estão convencidos de que pobreza se resolve com esmolas, enquanto eu e outros esquisitos achamos que ela se extingue com produção.
Pois Lourdes e eu fomos a Toritama (Agreste pernambucano, 180 km do Recife). É a capital do jeans, uma das três principais cidades do Polo de Confecções. Fica numa das regiões mais sujeitas às secas em todo o Estado. E exibe um dinamismo econômico invejável.
Ali não há miséria, nem desemprego. Todo mundo produz alguma coisa — preferencialmente, confecções — ou a vende. Num domingo à tarde, surpreendeu-nos a quantidade de gente de todos os cantos do Nordeste vinda à cidade para encher suas sacolas — as sacolas da virtude — com roupas que serão comercializadas mundo a fora.
Toritama não precisou de nenhum programa governamental de apoio para aparecer e se firmar. Nem se preocupou com a exploração do capitalismo financeiro internacional. Ou com o colonialismo interno. Compreendeu que encontrar culpados para nossos fracassos é a melhor garantia de que continuaremos a fracassar.
Partiu, então, para a luta. E venceu. Hoje, já tem uma classe média verdadeira (ao contrário daquela inventada pelo PT). Seu povo vive muito melhor do que quem mora nas cidades onde impera a Bolsa Família.

(Publicado no Facebook, 18-3-2019)

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