terça-feira, 2 de abril de 2019

“QUEM VAI PRA FAROL É O BONDE DE OLINDA”

Gustavo Maia Gomes
Algumas expressões populares merecem a eternidade. Essa do título é uma delas. Significa “nessa conversa fiada eu não caio” com a conotação de que o mentiroso gosta de “fazer farol”, contar vantagens.
Há um frevo-canção de Capiba (1904-97) que começa assim: "Você diz que gosta de mim / Mas só pode ser brincadeira de berlinda / Por que você mente tanto assim? / Quem vai pra farol é o bonde de Olinda". E prossegue: “Você diz a todo mundo que é milionária, mas só lhe vejo andando a pé”.
-- Nem mesmo de bonde? -- Azar dela, pois, “as viagens morosas para os bairros distantes do centro da cidade, com as pessoas sentadas bem juntas umas das outras, em ambiente arejado, favoreciam as conversas, as leituras de jornais, livros e revistas, as amizades e os namoros”.
Mas a moça de Capiba, aparentemente, saiu da linha, ou perdeu o bonde. E com a repetição dessas expressões quero enfatizar uma coisa: o bonde marcou época. O bonde elétrico do Recife e Olinda, que funcionou de 1914 a 1957, marcou época.
Eu andei nele. A linha de Casa Amarela era pela Estrada do Arraial, a cem metros de onde eu morava. Com menos de dez anos de idade, acompanhava meu pai ou irmão mais velho.
“Hoje, quem quiser matar as saudades ou conhecer um bonde, há um, do tipo pequeno, com 36 lugares, exposto à visitação pública nos jardins do Museu do Homem do Nordeste”, da Fundação Joaquim Nabuco de Casa Forte, Recife.
Foi o que eu fiz.

(Citações retiradas de Maria do Carmo Andrade. "O bonde elétrico no Recife". Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar>. Acesso em:20 mar 2019.)
(Publicado no Facebook, 20/3/2019)

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