terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

A CASA

Gustavo Maia Gomes
Recife, 8-2-2019
Em 1988, aos 70 anos de idade, minha mãe visitou a casa onde havia nascido, em 4 de dezembro de 1917, no Engenho Velho, Santa Rita, Paraíba, hoje, Usina Agroval. Neste ano, o engenho que tinha meu avô como herdeiro e único administrador era “um dos melhores, se não o melhor, da Várzea do Paraíba”, segundo disse no “Diário de Pernambuco” (29-1-1917) o padre e escritor Francisco Raimundo Pedrosa.
Stella ficou emocionada. Desde 1925, quando seus pais dali se mudaram, carregando os filhos, para Atalaia, Alagoas, ela não mais pusera os pés naquelas terras. Encontrar a casa bem conservada, percorrer suas salas e quartos e terraços, ouvir os sons da infância, sentir os cheiros de um tempo perdido, tudo isso lhe despertou sentimentos de felicidade e tristeza, depois descritos em carta à irmã Heloisa.
Pois, ontem, fui ao Engenho Velho, pela primeira vez na vida. É época de moagem, e de grande movimento na Usina. Mesmo assim, permitiram-me subir uma pequena ladeira, ao fim da qual, encarando-me -- majestosa, secular, pintada de azul e branco, sorrindo um sorriso franco de brotinho encantador e portando na testa a inscrição "1914" -- estava ela: a casa.
Da parte de sua história que mais me interessa, tomei conhecimento por meio de Heloisa Pedrosa, irmã de Stella, que também nasceu ali. Escreveu minha tia: “Papai [Manoel, ou "Nezinho"] conheceu a mamãe [Olga] quanto ele estava com doze anos e ela com seis. As famílias eram muito amigas; as propriedades, próximas. Todos os domingos papai ia visitar [os futuros sogros e, sobretudo, a filha deles]. Era muito bem recebido, todos gostavam muito dele.”
“A vovó Fifi [Josephina, mãe de Olga], então, tinha um especial carinho por ele [a quem] conhecera desde menino, filho que era de sua melhor amiga. Sabia o quanto ele era bom, trabalhador, ótimo filho e irmão. E, além de tudo, bonito. Que melhor marido ela poderia sonhar para sua filha?”
Feito o namoro, “a duração do noivado foi marcada pelos pais dela: dois anos. Fifi achava que seria preciso este tempo para que Nezinho construísse uma casa nova, pois a existente no Engenho [Velho] era muito ruim. E assim foi feito.”
Meu avô, o pai dela, construiu “uma casa maravilhosa”, escreveu Heloisa. Pude constatar, ontem, que ela tinha razão. “Papai e mamãe casaram-se em 1914, parece que em setembro, não sei o dia”. Nezinho havia cumprido as condições impostas pela sogra. Em particular, esperado os dois anos dos quais Fifi não abriria mão.

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